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Vídeo mostra a rotina de torturas sofridas pelos “escravos modernos”

“O que acontece ali é desumano”, diz diretora de ONG que ajudou brasileiros traficados a fugir de call center do crime chinês

Por Ricardo Brandt
Atualizado em 23 mar 2025, 14h46 - Publicado em 23 mar 2025, 14h39

A rotina diária de privações, torturas e medo vivida por vítimas do tráfico humano e do trabalho escravo moderno nas centrais chinesas de golpes cibernéticos, no Sudeste Asiático, é chocante mas precisa ser escancarada. “O que acontece ali é desumano. As pessoas precisam ter consciência do que acontece”, afirma Cíntia Meirelles, diretora no Brasil da ONG The Exodus Road, que combate o tráfico humano. “Os prisioneiros são torturados com choques, obrigados a segurar um galão de 30 litros de água por horas. Muitos têm a alimentação restringida e trabalham de 18 a 20 horas por dia”, relata.

Países como Mianmar, Camboja e Laos atraem cada vez mais pessoas em busca de emprego e que acabam aprisionadas em dívidas com agenciadores e contratantes, vítimas de violência física, psicológica e do medo. Nas centrais de golpes digitais, pessoas do mundo inteiro são forçadas ao trabalho escravo em call centers de crimes cibernéticos.

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Atraídos por falsas propostas de um emprego com salário de até 15 mil reais em firmas de tecnologia, acabam sequestrados e levados por recrutadores (traficantes de pessoas) que pagam a passagem, dão estadia e prometem vagas nas centrais de telemarketing. Já no destino e atolados em dívidas, são forçados a trabalhar em péssimas condições e em atividades ilícitas. A estimativa das autoridades locais é que 300 mil vítimas estejam nesses campos de trabalho forçado.

Luckas Viana dos Santos, de 36 anos, um dos brasileiros resgatados em fevereiro passado nessas condições, relatou a VEJA um pouco dessa rotina. “Em Mianmar eram golpes, conversávamos com pessoas que eles pegavam os números. Nós nos passávamos por uma modelo e tínhamos que criar uma relação com os homens, que iam se apaixonando. No fim das contas essa pessoa tinha que dar o dinheiro dele para ela”, relata, em referência a uma agenciadora.

Segundo ele, eram conversas de Whatsapp pelo computador, usando um programa que traduz automaticamente para qualquer língua o que é escrito. “A gente escrevia em português e ele traduzia automaticamente para a língua da pessoa. Eu ligava para homens na Europa. Se era um francês, ou um inglês, espanhol, ele traduzia”.

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Myanmar é um país em guerra, dividido por milícias armadas e sem sistema de Justiça. ”São complexos tecnológicos do crime de golpes financeiros. Prédios gigantes, monitorados com o sistema de pessoas fortemente armado, onde quem entra não pode sair”, explica a diretora da ONG. “As pessoas trabalham de 15 a 20 horas por dia e se elas não têm uma produção de volume de dinheiro, são torturadas em todos os sentidos, emocional e físico”. diz. As sessões de choque para quem não cumpre as metas ou descumpre as regras são aos poucos reveladas com vídeos que algumas das vítimas conseguiram fazer — e são assustadoras.

Atenção, imagens fortes a seguir!

“Eles falavam que ali era para fazer dinheiro e depois voltar para a sua vida normal”, disse Luckas, que foi agredido e violentado durante os quase 90 dias que esteve em Mianmar. “Começava à tarde, às cinco e meia, e terminava às oito e meia da manhã, para bater o horário com a Europa. Ia dormir às 9h e acordava só para voltar a trabalhar”, completa.

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O rapaz afirma ter sido vítima das sessões de choques e punições aplicadas. “Me deram pauladas, tive que fazer agachamento mil vezes em cima de uma plataforma que tinha uns pinos e fiquei umas 4 ou 5 horas parado no ar. Tinha que ficar sentando com as mãos e as pernas para frente e também com um galão de água nas costas”. Eram castigos.

Cintia Meirelles afirma que no padrão nos diversos complexos de golpes da região o aliciado acredita que está trabalhando para uma empresa. Tem horário de entrada e saída, vão dizer que tem o departamento de RH, que tem um gerente, chefe, hierarquia, horário para lanche, para ir no banheiro, dormir. Você acha que está em uma empresa, mas é um esquema de exploração e trabalho escravo para cometerem golpes.”

Sem comunicação com o exterior, com medo e sob violência constante, “infelizmente, muitas vezes eles não aguentam”, diz a diretora da entidade antitráfico humano no Brasil. “Existe um grande número de pessoas que cometem o suicídio nessa região. Precisamos abrir os nossos olhos como sociedade para ver onde paramos. Por que nós estamos tão retardatários em relação a combater esse tipo de crime”.

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