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Vida volta às Ramblas de Barcelona

Neste sábado, as Ramblas virou um quilômetro de homenagens, repleto de pessoas e "altares" improvisados em memória das vítimas

Por Da redação
19 ago 2017, 22h32

Mais uma vez, as Ramblas de Barcelona ficaram cheias de flores e aplausos: o que era luto na quinta-feira, neste sábado virou um quilômetro de homenagens, repleto de pessoas, às quais se somaram o rei Felipe e a rainha Letizia.

Em meio a buzinaços e balões, vários taxistas desfilaram pela avenida ao final da tarde, com uma fita negra nas antenas dos carros e os dizeres “Não temos medo” estampados nas janelas.

O paquistanês Hussein Nassam, de 44 anos, depositou com outros amigos uma coroa de flores em nome dos “taxistas muçulmanos” na entrada da concorrida avenida barcelonesa.

Ao longo dos 500 metros percorridos pela van que matou 13 pessoas na quinta-feira, não deixaram de aparecer “altares” improvisados em memória das vítimas.

Em alguns, era possível ler as palavras “Juntos, diferentes, paz”, em meio a velas, bichos de pelúcia e bilhetes manuscritos. “As Ramblas choram, mas estão vivas”, resume um cartaz.

“Hope and love”

As pessoas voltaram a comer sorvetes e paellas a qualquer hora e nos estabelecimentos de bebe de tudo. O bar Boada anuncia no balcão seu “coquetel do dia: Hope and Love” (esperança e amor, em inglês).

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Quase todas as lojas reabriram e algumas só fecharam naquele dia trágico. O Café da Ópera (fundado em 1928) permaneceu fechado apenas três horas na quinta-feira e porque a Polícia mandou, conta Andreu Ros, de 46 anos, filho da dona.

“Esperamos que a cidade continue igualmente acolhedora” como sempre, diz Andreu entre as paredes que viram passar escritores como o barcelonês Manuel Vázquez Montalbán (1939-2003), o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) e o britânico George Orwell (1903-1950), que lutou do lado republicano durante a Guerra Civil espanhola de 1936-1939 e se alojou nas mesmas Ramblas.

Um lugar emblemático

As Ramblas da capital catalã têm alto valor simbólico.

Ali ocorreu a primeira manifestação de homossexuais na Espanha há 40 anos. Ali também está a fonte de Canaletas, onde os jogadores e os torcedores do Barça celebram suas conquistas, e que agora foi transformada em “altar” dedicado à memória das vítimas do atentado.

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Na entrada do mercado da Boquería, de um lado das Ramblas, está Félix Ribas, de 60 anos, em meio a presuntos e chouriços que vende desde que tinha 17 anos.

“Trabalhamos bem, como se nada tivesse acontecido”, embora “tivéssemos ficado incomodados com o que vimos…”. Na quinta-feira, “três turistas se refugiaram dentro do meu estabelecimento, embaixo, escondidos. Um italiano de 28 anos chorava porque não sabia onde estavam sua mulher e seus filhos”, lembra.

Por volta das sete da noite, o rei da Espanha, Felipe VI, e a rainha Letizia foram depositar uma coroa de flores sobre o mosaico de Miró, justamente onde a caminhonete branca acabou seu macabro trajeto.

Alguns nutriam um certo “sentimento de revanche”, como José Luis, um barcelonês de 76 anos, que acaba de fazer suas compras em um supermercado das Ramblas. Os jihadistas “destruíram nosso coração”, diz.

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No entanto, predomina a necessidade de uma espécie de comunhão – religiosa ou laica -, como é o caso de Isabella Koch, uma estudante dinamarquesa na casa dos 20 anos que foi ali na sexta-feira para rezar.

O falecido escritor barcelonês Juan Goytisolo, que viveu os últimos anos de sua vida em Marrakech, dizia ser “nacionalista das Ramblas, com todos os idiomas e culturas”, lembrou o jornal catalão La Vanguardia.

O periódico também citou o poeta granadino Federico García Lorca, assassinado em 1936 pouco antes da Guerra Civil, que descrevia as Ramblas como “a rua mais alegre do mundo”, “a única rua da Terra que eu desejaria que não acabasse nunca”.

(Com AFP)

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