Viagem a Marte: quão distante está a promessa feita por Trump
Elon Musk prevê que astronautas serão enviados ao planeta vermelho em 2030, mas já adiou a data antes – e uma série de obstáculos podem impedir missões
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou durante seu discurso de posse em Washington nesta segunda-feira, 20, que irá enviar astronautas para Marte e colocar a bandeira americana no planeta. A promessa de Trump arrancou aplausos do bilionário Elon Musk, fiel escudeiro e dono da Space X, empresa de exploração espacial, que estava presente na cerimônia.
“Vamos perseguir nosso destino manifesto rumo às estrelas, enviando astronautas americanos para fincar as estrelas e listras (da bandeira americana) no planeta Marte”, disse Trump em seu discurso de posse.
Interesse do “primeiro amigo”
Aliado do governo Trump, Musk revelou sua grande ambição de criar uma colônia humana em Marte pela primeira vez em 2016. Naquela época, o empresário esperava que uma missão tripulada ao planeta vizinho pudesse acontecer em 2024. Mais adiante, ele recalculou seus planos para 2026. E agora, adiou de novo: prevê que astronautas serão enviados a Marte em 2030.
A ideia do bilionário é dar início à construção de uma base autossuficiente com estufas, plantações e infraestrutura completa logo na primeira missão, com previsão de ser concluída em duas décadas.
No centro desse projeto está a Starship, maior foguete já desenvolvido (o mesmo que explodiu e fez uma chuva de destroços no Caribe durante um teste recente). A nave da Space X deve realizar seu primeiro voo orbital até 2026 e, se tudo sair como planejado, vai integrar a missão lunar Artemis 3, com destino à Lua, no mesmo ano. A previsão é de que a viagem consuma 120 bilhões de dólares, mais que o dobro do projeto Apollo, que levou o homem à Lua pela primeira vez.
Para além de apenas enviar astronautas temporariamente para Marte, Musk já revelou planos ambiciosos para a colonização do planeta vermelho. O bilionário prevê que a primeira colônia da Space X em Marte será estabelecida em 2054, com capacidade para mais de um milhão de pessoas. Musk planeja fabricar até mil unidades da Starship, que seriam lançadas em grandes frotas durante as janelas de transferência Terra-Marte, quando os planetas se alinham corretamente para missões interplanetárias uma vez a cada 26 meses.
Desafios da viagem
Mais de meio século após a jornada que levou o homem a pisar na Lua pela primeira vez, em 1969, diversas naves espaciais já foram enviadas para Marte, incluindo o rover Perseverance, da NASA, e o Zhurong, da China, que permanecem se movendo ao redor do planeta e enviando fotos e outras informações importantes sobre o planeta para a Terra.
Então por que os humanos ainda não foram à Marte? De acordo com a NASA, uma série de obstáculos impedem o envio de uma missão ao planeta vermelho, incluindo a falta de uma melhor compreensão sobre como o corpo humano se adaptaria à vida no planeta e o tempo da viagem.
Marte fica a cerca de 55 milhões de quilômetros de distância em seu ponto mais próximo da Terra, mas essa distância pode ser ainda maior dependendo do período em que a viagem for realizada. Isso acontece porque os dois planetas orbitam o sol em distâncias e velocidades diferentes, o que cria períodos mais ideais para viajar entre os dois, especialmente considerando o tempo necessário para voltar para a Terra.
Nas melhores condições de aproximação dos dois planetas e com as tecnologias de foguetes atuais, ir a Marte levaria aproximadamente 7 meses inteiros, tempo em que os astronautas ficariam confinados na espaçonave flutuando pelo espaço.
Outro desafio é pousar no planeta vermelho em segurança, devido à dificuldade de desacelerar a nave. Para que o pouso seja bem sucedido, a nave precisaria uma espécie de retropulsão supersônica — jatos na parte inferior que revertem o impulso massivo o suficiente para trazer o foguete com segurança ao solo, o que a Nasa já está desenvolvendo.
As fortes tempestades de poeira também podem dificultar a permanência dos astronautas no planeta. Em 2018, o rover Opportunity saiu do ar após uma forte tempestade lá. Além disso, os astronautas encontrariam condições extremas de um deserto gelado. A temperatura na superfície varia entre 20 e -153 graus Celsius.
Previsão da NASA
A última data (adiada) de Musk para a missão em Marte está mais próxima da previsão da NASA, mas continua mais ousada. A agência espacial americana planeja enviar humanos em uma viagem científica de ida e volta a Marte, potencialmente em 2035. Os astronautas podem passar até 500 dias na superfície do planeta antes de retornar à Terra.
Para enviar pessoas a Marte e devolvê-las em segurança à Terra, a NASA desenvolveu um novo e muito poderoso veículo de lançamento chamado Space Launch System e uma nova nave espacial chamada Orion.
Para preparar e treinar astronautas para viver e explorar Marte, também estabeleceu um novo programa para levar humano à Lua novamente, chamado programa Artemis. Na mitologia, Artemis era a irmã gêmea de Apolo, nome da primeira missão ao corpo celeste mais próximo da Terra. A ideia é que membros da NASA vivam e trabalhem na Lua por meses a fio para se preparar para fazer o mesmo em Marte.
Embora a NASA tenha vários motivos para perseguir uma missão tão ambiciosa, o maior deles é a exploração e descoberta científica (e nem cogita uma colonização). Entre idas e vindas de Musk (que também já prometeu precocemente a popularização de carros autônomos e voadores), a data mais confiável talvez seja a da agência espacial americana.
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