Vaticano prevê funeral do papa entre sexta e domingo
Protocolo determina que a cerimônia seja realizada entre o quarto e o sexto dia após a morte do pontífice

Seguindo as diretrizes da constituição apostólica Universi Dominici Gregis, que estabelece que o funeral de um papa deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia após sua morte, a cerimônia fúnebre de Francisco está prevista para acontecer entre sexta-feira (25) e domingo (27).
A definição da data será feita durante a primeira Congregação Geral dos Cardeais, marcada para esta terça-feira (22).
Com isso, a expectativa é de que o funeral ocorra no sábado (26), data considerada mais provável pelo Vaticano.
O papa Francisco, que faleceu nesta segunda-feira (21) vítima de insuficiência cardíaca e AVC, reformou em 2024 os ritos funerários da Igreja, com o objetivo de simplificá-los e destacar sua visão do pontífice como um simples bispo entre os fiéis.
A morte de um papa e a escolha de seu sucessor seguem um rigoroso conjunto de protocolos e rituais. No caso de Francisco, falecido nesta segunda-feira (21), três aspectos se destacam como inéditos nesse processo.
A primeira novidade é a simplificação do protocolo funerário, promovida pelo próprio pontífice ainda em vida. A segunda envolve o local do sepultamento: Francisco não será enterrado nas tradicionais Grutas do Vaticano, onde repousam 23 papas, mas sim na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — um templo ao qual sempre foi devoto.
Por fim, a terceira mudança diz respeito ao conclave: graças a uma norma introduzida por Bento XVI em 2013, o processo de eleição do novo papa poderá começar antes dos 15 dias habituais, desde que todos os cardeais estejam reunidos em Roma. A data exata será definida nos próximos dias.
Participarão da escolha 135 cardeais, naquele que deve ser o conclave mais internacional da história. E, naturalmente, o momento mais aguardado será o anúncio do nome do novo pontífice.
Um adeus reformado: funeral e sepultamento de Francisco
Francisco já havia manifestado o desejo de ter um funeral diferente de seus antecessores. Em 2023, ao presidir as exéquias de Bento XVI — com o corpo exposto sobre um catafalco — declarou que aquele seria o último a seguir aquele modelo.
“Na minha opinião, o ritual era elaborado demais. Os papas devem ser sepultados como qualquer outro filho ou filha da Igreja. Com dignidade, mas não em travesseiros”, afirmou.
Essa intenção se concretizou em abril de 2024, quando ele reformou oficialmente o protocolo funerário, por meio do Ordo Exsequiarum Romani Pontificis.
Segundo o Escritório de Celebrações Litúrgicas, a proposta era garantir uma cerimônia condizente com a imagem de “um pastor e discípulo de Cristo, e não de alguém poderoso neste mundo”.
Entre as mudanças, destaca-se a confirmação da morte, que passou a ser feita na capela — e não mais no quarto papal.
O corpo é imediatamente colocado em um caixão de madeira com revestimento de zinco e levado diretamente à basílica, sem a tradicional parada no Palácio Apostólico. A partir de quarta-feira (23), o caixão ficará aberto por três dias para visitação dos fiéis, até o funeral.
O destino final do corpo também é simbólico. Francisco escolheu ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, próximo à estação Termini — e não nas Grutas Vaticanas. O templo abriga a imagem da Salus Populi Romani, a Virgem dos Romanos, diante da qual o papa costumava rezar após sua eleição e antes de cada viagem apostólica.
Além disso, será abandonado o uso dos três caixões tradicionais — de cipreste, chumbo e carvalho — utilizados nos sepultamentos papais. Embora incomum, o gesto tem precedentes: Pio IX foi sepultado em São Lourenço Fora dos Muros, e Leão XIII, em São João de Latrão.
Assento vago e nove dias de luto: o que acontece após a morte de um papa
Com o falecimento de um pontífice, tem início o período de nove dias de luto oficial, conhecido como Novendiali. Durante esse tempo e enquanto a Sé Apostólica permanece vacante, a administração do Vaticano é assumida pelo camerlengo — atualmente o cardeal americano Kevin Joseph Farrell, nomeado em 2019.
Cabe ao camerlengo certificar oficialmente a morte, destruir o anel do pescador (símbolo do pontificado) e lacrar os aposentos papais. Ele também comunica o falecimento ao Cardeal Vigário de Roma e atua com o apoio de três cardeais sorteados, renovados a cada três dias. O funeral deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte.
Outra figura central nesse momento é o decano do Colégio Cardinalício, responsável por convocar os cardeais ao conclave e organizar as reuniões preparatórias.
Desde 2020, o decano é o cardeal Giovanni Battista Re, mas, por ter mais de 80 anos — idade limite para participar da eleição —, ele não poderá presidir o conclave. Esse papel caberá ao cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado e braço direito de Francisco durante o pontificado.
Antes da votação, os cardeais participam das chamadas congregações gerais — reuniões para oração e troca de impressões sobre os rumos da Igreja.
É nesse ambiente que surgem os primeiros consensos, despontam candidaturas viáveis e os votos começam a se consolidar. O cenário se prepara, então, para a escolha do novo líder da Igreja Católica.