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Sopro de modernidade: Vaticano pode permitir padres casados na Amazônia

Documento sobre a evangelização na região amazônica levanta a discussão milenar sobre o fim do celibato

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h49 - Publicado em 21 jun 2019, 21h00

O papa Francisco talvez nunca consiga, ou mesmo não deseje, revolucionar as ideias pétreas e milenares da Igreja Católica. É inquestionável, contudo, sua capacidade de arejamento, numa permanente tentativa de fazer a religião conversar com os humores do século XXI. Na semana passada, em um documento preparatório para um sínodo que tratará da evangelização na região amazônica, marcado para outubro, os clérigos alimentaram um histórico debate, sobre a conveniência de abolir o celibato de padres.

O texto, intitulado “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”, sugere que “para as áreas mais remotas da região seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal para pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e aceitas pela sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de garantir os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã”. A declaração conversa com os viri probati (em latim, homens com caráter atestado), um grupo muito particular. São homens mais velhos, casados ou não, que seguem estritamente os princípios cristãos e passam a ter autorização para exercer as funções de um padre, como celebrar a eucaristia.

Houve ruído, como se a porta do casamento de religiosos da Igreja Católica tivesse sido aberta. Não. É exagero dizer que Francisco caminhe para o fim do celibato. Mas convém lembrar que o tema sempre andou pelos claustros. O celibato nunca foi um dogma. É o que se chama de disciplina ou regra. Tem origem no exemplo dos apóstolos que se dedicaram totalmente a Jesus Cristo — e foi oficialmente estabelecido no Concílio de Latrão, apenas no século XII.

Em 1967, quando a sociedade começava a namorar a revolução sexual, período do “faça amor, não faça guerra”, Paulo VI publicou uma encíclica, a Sacerdotalis caelibatus, com uma preocupação: “No clima atual de novos fermentos, manifestou-se também a tendência, e até a vontade expressa, de pedir à Igreja que torne a examinar esta sua instituição característica, cuja observância, segundo alguns, se tornou problemática e quase impossível no nosso tempo”. O próprio Paulo VI comentaria as questões que propusera: “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celi­bato”. Francisco já disse coisa parecida, apesar do tom suave: “Não concordo em permitir o celibato opcional”. Não se muda uma religião com mais de 2 000 anos de história na canetada.

Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640

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