Urnas quebradas, filas e chuvas atrapalham eleição nos EUA
Eleitores de vários estados, como indígenas de Dakota do Norte, não puderam votar por causa de novas regras de identificação
As eleições desta terça-feira (6) nos Estados Unidos não foram nada tranquilas. Problemas nas urnas eletrônicas impediram centenas de eleitores de votar em 12 estados. Longas filas debaixo de chuva, provocadas por atrasos na abertura das seções, e dificuldades para os votantes se identificarem provocaram reações de grupos de defensores do direito ao voto e brigas entre candidatos.
Na votação desta terça, os americanos decidem a quem darão a maioria das cadeiras da Câmara dos Deputados, atualmente sob controle do Partido Republicano de Donald Trump. Também escolhem os componentes de um terço do Senado e os governadores de 36 dos 50 estados americanos.
O resultado, especialmente nas escolhas para Câmara, poderá fazer dos dois últimos anos de mandato de Trump um pesadelo. A rigor, esta eleição na metade do mandato presidencial tradicionalmente julga os dois primeiros anos do governo em curso.
Líderes do Partido Democrata e grupos de direitos humanos alegaram haver novas restrições ao voto nestas eleições em localidades de todo o território americano. Uma autoridade do Departamento de Segurança Nacional, porém, alegou ter recebido relatos “esparsos” de falhas nas urnas, mas que não haveria comprometimento ao direito de votar.
Urnas eletrônicas quebradas foram reportadas em pelo menos 12 estados até 12h desta terça-feira, de acordo com o Comitê de Advogados para Direitos Civis sob a Lei, que lidera uma coalizão de mais de 100 entidades de proteção às eleições. O Comitê recebeu mais de 10.000 ligações pela manhã, com denúncias de problemas. Mais de 6.500 advogados e instrutores foram espalhados pelo país para garantir o direito ao voto.
Na Geórgia, onde a democrata Stacey Abrams tem chances de se tornar a primeira mulher negra a governar o estado, houve denúncias de problemas nos registros digitais de votação, segundo a porta-voz do atual governo, Candice Broce. Alguns eleitores receberam cédulas provisórias, em papel, em vez de usarem as urnas eletrônicas regulares, disse Broce.
A funcionária dos correios Shirley Thorn, de 56 anos, contou ter esperado mais de quatro horas em uma zona eleitoral em Snellville, na Geórgia, para que os problemas com as urnas forem consertados. “Eu estava determinada a votar hoje porque é uma eleição muito importante”, disse Thorn.
O Comitê de Advogados para Direitos Civis sob a Lei explicou que as cédulas provisórias são menos confiáveis do que o voto eletrônico, porque elas requerem a verificação das informações sobre os eleitores antes da contagem dos votos. “Estamos preparados para abrir processos para lidar com alguns dos problemas sistêmicos que, às vezes, aparecem nas nossas eleições”, disse Kristen Clarke, diretora do Comitê.
No condado de Maricopa, no Arizona, o Comitê pediu a extensão do período de votação por causa de problemas sistêmicos, como as falhas nas impressoras das urnas eletrônicas. Várias zonas eleitorais atrasaram a abertura para a votação ou nem mesmo abriram suas portas aos eleitores.
Grupos de direitos civis abriram processos legais em diversos estados onde houve restrições à votação. Em Dakota do Norte, dezenas de indígenas americanos não puderam votar devido as novas regras locais de identificação dos eleitores. Nos Estados Unidos, os cidadãos não têm título de eleitor nem documento de identidade, como o RG, no Brasil. A carteira de habilitação, em geral, é o principal meio de conferir a identidade, embora nem todos os eleitores a tenham.
Nos Estados do Kansas e da Geórgia, alguns locais de votação foram alterados, o que causou confusão nos eleitores. No Tennessee, mudanças nas leis de registro de eleitores levaram à remoção de alguns eleitores de listas de votação.
Grupos de defesa de direitos dizem que as mudanças dificultaram ainda mais o voto de eleitores oriundos de minorias, que tradicionalmente apoiam os candidatos democratas. As ocorrências não são novas e foram observadas nas últimas eleições nos Estados Unidos, onde a votação não é organizada por um ente federal — como o Tribunal Superior Eleitoral, no Brasil.
As regras e exigências para os eleitores, as cédulas, as urnas e o sistema de apuração são definidos individualmente pelos estados — e, em muitos casos, pelos condados. Diferentemente do que acontece no Brasil, as eleições nos Estados Unidos envolvem também outras escolhas locais — juízes, promotores, xerifes etc. — e também referendos. Nesta eleição, 155 propostas serão avaliadas pelos eleitores, entre as quais a legalização do uso recreativo ou medicinal da maconha e do aborto.