UE faz censura velada à extrema-direita italiana, favorita nas eleições
Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, disse que o bloco tem 'ferramentas' para lidar com países anti-democráticos, citando Polônia e Hungria
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou a Itália na quinta-feira 22 sobre possíveis consequências caso se desvie dos princípios democráticos. A advertência velada ocorre dias antes das eleições para primeiro-ministro no país, que a coalizão de extrema-direita liderada pela neofascista Giorgia Meloni deve vencer.
Matteo Salvini, chefe do partido Liga e parte da coalizão conservadora de Meloni, denunciou seus comentários como “arrogância vergonhosa”.
“O que é isso, uma ameaça?” ele escreveu no Twitter. “Respeite o voto livre, democrático e soberano do povo italiano!”
O posicionamento da chefe do executivo da União Europeia destacou a preocupação em algumas capitais do bloco com o pleito deste domingo, 25, e sugeriram que as relações entre Bruxelas e Roma podem ficar turbulentas se Meloni e seus parceiros assegurarem a vitória.
“Minha abordagem é que qualquer governo democrático que esteja disposto a trabalhar conosco, estamos trabalhando juntos”, disse von der Leyen na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, respondendo a uma pergunta sobre suas preocupações em relação às eleições na Itália.
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“Se as coisas vão em uma direção difícil, como falei sobre Hungria e Polônia, temos ferramentas [para lidar com isso]”, acrescentou.
No último domingo 18, a Comissão Europeia suspendeu um pacote de financiamento de 7,5 bilhões de euros (R$ 38,19 bilhões) para a Hungria por corrupção, o primeiro caso desse tipo no bloco de 27 países.
A União Europeia criou o recurso de sanção financeira há dois anos, em resposta ao que diz ser o enfraquecimento da democracia na Polônia e na Hungria. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, ficou conhecido por subjugar os tribunais, a mídia, ONGs e acadêmicos do país, além de restringir os direitos de imigrantes, homossexuais e mulheres durante mais de uma década no poder.
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Von der Leyen também foi criticada pelo governo polonês, onde o vice-ministro da Justiça acusou a Alemanha de conduzir as decisões da União Europeia.
“A presidente da Comissão Europeia sugere que, se os italianos elegerem um governo do qual Bruxelas não gosta, eles podem ter os fundos bloqueados”, disse o vice-ministro da Justiça polonês, Sebastian Kaleta, no Twitter.
“Mais uma prova de que o ‘estado de direito’ é pura chantagem para impor ditames da União Europeia, ou melhor, alemães. Tal é a ‘democracia'”, acrescentou.
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Kaleta pertence ao partido conservador Polônia Unida, cujo líder é o ministro da Justiça Zbigniew Ziobro, arquiteto das reformas judiciais que Bruxelas diz prejudicar a independência dos tribunais na nação.
Eric Mamer, porta-voz da Comissão Europeia, disse a repórteres em Bruxelas que von der Leyen não estava tentando interferir na política italiana.
“Ela estava enfatizando o papel da Comissão como guardiã dos tratados [europeus] em relação ao estado de direito”, disse ele nesta sexta-feira, 23.