Horas depois de cessar-fogo, Ucrânia acusa Rússia por violações
Corredores humanitários previstos para esta quarta-feira envolvem Kiev e outras quatro grandes cidades
A Rússia anunciou um novo cessar-fogo parcial nesta quarta-feira, 9, para abertura de corredores humanitários para fuga de civis da capital da Ucrânia, Kiev, e outras quatro grandes cidades. A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, confirmou a informação, dizendo que aos corredores envolvem áreas como Mariupol, Chernihiv, Sumy e Kharkiv, a segunda maior cidade do país.
Poucas horas depois, no entanto, a prefeitura de Mariupol publicou um vídeo de uma maternidade devastada na cidade, dizendo que forças russas teriam lançado bombas de aviões.
“A destruição é enorme. O prédio da instalação médica onde crianças foram tratadas recentemente está completamente destruído. Informações sobre mortes ainda estão sendo esclarecidas”, disse o conselho municipal.
Mariupol authorities say that a Russian aerial bomb destroyed a children’s hospital less than a hour ago #Ukraine pic.twitter.com/uTQOm17ucq
— Bojan Pancevski (@bopanc) March 9, 2022
Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, há crianças sob os escombros. Os relatos não puderam ser verificados de forma independente.
Mariupol. Direct strike of Russian troops at the maternity hospital. People, children are under the wreckage. Atrocity! How much longer will the world be an accomplice ignoring terror? Close the sky right now! Stop the killings! You have power but you seem to be losing humanity. pic.twitter.com/FoaNdbKH5k
— Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 9, 2022
“Mariupol. Ataque direto de tropas russas contra o hospital madernidade. Pessoas, crianças estão sob os destroços. Atrocidade!”, escreveu em publicação no Twitter.
Em Mariupol, a saída de refugiados já havia sido interrompida na terça-feira, em uma tentativa anterior de cessar-fogo. Enquanto a Ucrânia fala em “promessas não cumpridas” por parte da Rússia, os russos acusam nacionalistas ucranianos de boicotes à operação.
A denúncia ucraniana foi feita por Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em publicação no Twitter. Segundo ele, força russas atacaram o comboio de oito caminhões e mais de 30 ônibus que levavam ajuda humanitária à cidade e retiravam civis para a região de Zaporizhzhia.
Em Sumy, a cerca de 300 quilômetros da capital, operações de retirada de moradores começaram por volta das 4h, horário de Brasília, segundo a prefeitura local. Não há relatos de ataques.
“A equipe de negociação trabalhou toda a noite e estendeu a operação do corredor humanitário de Sumy para Poltava hoje”, disse o chefe da administração regional, Dmytro Zhyvytskyy, nas redes sociais. “Os mesmos ônibus que usamos ontem (…) serão usados para transportar mulheres grávidas, mulheres com crianças, idosos e pessoas com deficiências”.
Além dos ônibus fretados, civis também estão deixando a cidade em carros particulares, segundo o prefeito de Sumy, Oleksandr Lysenko. Estima-se que, desde a terça-feira, cerca de 5.000 pessoas tenham deixado Sumy, que passou por ataques intensos nos últimos dias e está quase isolada do resto do país. Cerca de 21 pessoas morreram em um ataque aéreo contra uma área residencial na noite de segunda-feira, segundo autoridades locais.
Corredores humanitários
Um entendimento sobre corredores humanitários foi firmado durante a terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, que ocorreu na segunda-feira 7.
Após dois encontros na semana passada que renderam entendimentos escassos para proteção de civis, a terceira rodada de conversas terminou com “pequenos desenvolvimentos positivos”, segundo um representante ucraniano. Apesar do tom mais positivo, a implementação de corredores humanitários, que têm objetivo de facilitar a retirada de civis e a entrada de itens básicos como remédios, tem se mostrado difícil em cidades afetadas pela guerra.
Durante o fim de semana, duas tentativas de retirada de civis fracassaram. Grupos separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia trocaram acusações de violações à ordem de interromper momentaneamente o conflito.
A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis da região, usando a população como ‘escudo humano’. “Devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou de estender o cessar-fogo, as operações ofensivas foram retomadas”, disse o major-general Igor Konashenkov.
As autoridades da cidade de Mariupol, por sua vez, disseram que a retirada de civis foi adiada porque militares russos não estariam respeitando a trégua. As prefeituras de Mariupol e Volnovakha disseram que as cidades são alvos de bloqueios e ataques russos, impedindo a saída segura dos civis. Mesmo após o acordo, a Ucrânia vinha alegando desrespeito dos russos ao acordo com as regiões sendo alvos de constantes ataques. As duas cidades foram as únicas autorizadas a funcionar como um corredor de fuga para os civis.
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Mais de 2.000 civis foram mortos desde o início da invasão russa à Ucrânia, segundo Kiev, e centenas de estruturas, como instalações de transporte, hospitais, jardins de infância e prédios residenciais foram destruídos, relatou o serviço de emergência ucraniano na quarta-feira. Nesta segunda-feira, a Organização das Nações Unidas relatou que há mais de 1.200 pessoas afetadas, sejam mortas ou feridas, desde o início da guerra na Ucrânia. Ao todo, 406 pessoas teriam morrido, segundo levantamento da organização.