Ucrânia e Rússia intensificam conflito à sombra da posse de Trump
Após nova ofensiva ucraniana em território russo, forças de Moscou tomam Kurakhove, cidade no leste do outro lado da fronteira

A Rússia disse nesta segunda-feira, 6, que realizou um avanço importante no leste da Ucrânia, com a captura da cidade de Kurakhove, após semanas de resistência. O Ministério da Defesa de Moscou informou que a conquista de um centro logístico ucraniano permitirá acelerar os avanços russos na região de Donetsk. Além disso, as forças russas também reivindicaram a captura do assentamento de Dachenske, a cerca de oito quilômetros de Pokrovsk, pouco depois de uma nova ofensiva dos militares de Kiev no país inimigo.
O governo ucraniano não reconheceu oficialmente a queda de Kurakhove. Viktor Trehubov, porta-voz do grupo de forças Khortytsia da Ucrânia, disse à Reuters que os combates ainda estão no local, e que as tropas ucranianas estão resistindo. O grupo de monitoramento ucraniano DeepState, que rastreia a linha de frente, indicou que a maior parte de Kurakhove está sob controle russo.
A Ucrânia iniciou uma nova ofensiva na região de Kursk, no oeste da Rússia, no domingo 5, embora não tenha oferecido detalhes dessa operação. Uma autoridade ucraniana declarou, no entanto, que os russos estão “recebendo o que merecem”. Em resposta, o Ministério da Defesa da Rússia disse que o avanço dos inimigos foi frustrado e que a força principal foi destruída perto do assentamento de Berdin, ao norte de Kursk, e alertou que um novo ataque ucraniano poderia estar em andamento.
O fantasma Trump
Nos últimos meses, a Rússia tem acelerado seus avanços no leste da Ucrânia, com o objetivo de consolidar território antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em 20 de janeiro. As forças russas buscam ampliar seu controle em Donetsk e outras áreas estratégicas. Ao mesmo tempo, a Ucrânia tem como principal objetivo consolidar sua presença na região russa de Kursk, onde, nos últimos cinco meses, tem conseguido manter algumas posições contra a ofensiva russa.
Ambos lados buscam obter vantagens diante da crescente possibilidade, com o patrocínio de Trump, de um retorno à mesa de negociações. Durante a campanha eleitoral, o americano prometeu encerrar a guerra no Leste Europeu em “24 horas”, disse que está em posição privilegiada para as tratativas por manter diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, e, após um encontro com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, na França em dezembro, pediu um “cessar-fogo imediato”.
Em resposta à ofensiva ucraniana, os aliados ocidentais reafirmaram seu compromisso com Kiev. A chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, reiterou o direito da Ucrânia de se defender, inclusive fora de suas fronteiras, destacando que os ataques russos originados da região de Kursk tornam a área um alvo legítimo sob o direito internacional. O Departamento de Estado dos Estados Unidos também prometeu reforçar a assistência de segurança e recursos à Ucrânia, enquanto o governo britânico afirmou que continuará a apoiar Kiev “pelo tempo que fosse necessário”. Tudo pode mudar, porém, com o fator Trump, um forte crítico do financiamento com “cheques em branco” de Washington ao aliado no Leste Europeu.