Ucrânia adota cautela sobre tese de míssil e pede dados a EUA e Canadá
Presidente ucraniano disse que hipótese sobre acidente aéreo que matou 176 pessoas em Teerã 'não está excluída nem confirmada'
O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, adotou cautela sobre a possibilidade de um míssil antiaéreo iraniano ter derrubado por engano um avião ucraniano em Teera na quarta-feira 8. Zelensky afirmou nesta sexta-feira, 10, em sua conta oficial no Facebook, que a tese “não está excluída, mas tampouco está confirmada”. O acidente com o Boeing 737 deixou todas as 176 pessoas a bordo mortas.
Os serviços de inteligência de Estados Unidos, Canadá e Reino Unido acreditam, com base em dados de satélite e radares, que um míssil terra-ar do sistema de defesa antiaéreo iraniano derrubou a aeronave. A queda aconteceu poucas horas depois de um bombardeio do Irã contra bases americanas no Iraque e o regime iraniano estava em alerta para um possível revide dos EUA. Na quinta, o premiê canadense Justin Trudeau disse que há “evidências” de que foi isso que aconteceu. O americano Donald Trump afirmou que “alguém pode ter cometido um erro”. O Irã segue negando qualquer responsabilidade na tragédia.
O líder ucraniano reiterou o seu apelo aos três países para que forneçam os relatórios de inteligência que apontam o míssil como o motivo de queda. “Pedimos aos nossos sócios internacionais, em especial aos governos dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, que forneçam dados e provas sobre a catástrofe à comissão de investigação.”
Nos primeiros momentos após o desastre, investigadores trataram o episódio como uma falha mecânica no motor do avião. Mas cenas dos destroços começaram a emergir nas redes sociais e geraram dúvidas adicionais. Em uma delas, é mostrado um suposto destroço da ponta de um míssil terra-ar de fabricação russa.
Além das fotos do suposto míssil, um vídeo emergiu nas redes sociais mostrando o suposto momento em que a aeronave é impactada pelo projétil. Segundo o jornal americano The New York Times, o vídeo é verídico, e a trajetória do avião corresponde com a rota prevista para o voo que tinha como destino Kiev, a capital da Ucrânia.
Liderando as investigações, o governo iraniano convidou especialistas da Ucrânia, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos para participarem da apuração. Os iranianos também informaram que a caixa-preta, que ficou danificada, será aberta nesta sexta-feira.
Entre as vítimas da tragédia estão 82 iranianos, 63 canadenses, onze ucranianos, dez suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos.
O ataque iraniano contra tropas americanas estacionadas no Iraque ocorreu na terça-feira 7 como uma represália à morte do general e comandante do braço de elite da Guarda Revolucionária Iraniana, Qasem Soleimani, na sexta-feira 3.
Os Estados Unidos acusavam Soleimani de planejar ataques por meio de grupos xiitas contra as forças diplomáticas e militares americanas na região, como o ataque contra o aeroporto internacional de Bagdá, que vitimou um civil americano, e a invasão à embaixada na zona verde da capital iraquiana, em dezembro de 2019.
A tensão entre Teerã e Washington voltou a escalar em 2018, quando Trump decidiu sair unilateralmente do acordo nuclear firmado entre os dois países e mais cinco potências atômicas em 2015. Desde então, os Estados Unidos retomaram as sanções econômicas pré-acordo e estabeleceram novas restrições econômicas ao país.
Recentemente, três episódios quase levaram os dois países ao conflito direto — sendo a morte de Soleimani e o revide iraniano os que mais expuseram ambos à guerra. Antes, houve a crise dos petroleiros no Golfo Pérsico, com o abate de um drone americano pela Guarda Revolucionária em junho, e o ataque às refinarias da estatal saudita Aramco pelos rebeldes xiitas houthis em setembro de 2019.