Turquia realizará busca em consulado saudita após sumiço de jornalista
Autoridades turcas acusam Arábia Saudita de ter assassinado Jamal Khashoggi na sede diplomática por suas críticas ao governo
A Turquia conduzirá uma busca no consulado da Arábia Saudita em Istambul após o desaparecimento do jornalista crítico ao governo saudita Jamal Khashoggi. O Reino autorizou a realização da investigação.
“As autoridades sauditas disseram que estavam dispostas a cooperar e que podia revistar o consulado”, informou o porta-voz do ministério turco das Relações Exteriores em comunicado.
O desaparecimento de Khashoggi, editor de jornal na Arábia Saudita e conselheiro do ex-chefe de inteligência do país, provocou preocupação global, particularmente depois que autoridades turcas disseram no fim de semana que acreditam que ele foi assassinado dentro do consulado de seu país na Turquia.
Khashoggi deixou seu país no ano passado dizendo temer represálias por suas críticas contra a diretriz saudita na guerra do Iêmen e a repressão à discórdia.
Na terça-feira (2), ele entrou no consulado em Istambul para obter documentos para seu casamento iminente. Autoridades sauditas dizem que ele saiu pouco depois, mas sua noiva, que esperava do lado de fora, disse que ele nunca apareceu.
“Temos que obter um desfecho para esta investigação o mais cedo possível. As autoridades do consulado não podem se safar simplesmente dizendo ‘ele saiu'”, disse o presidente turco Recep Erdogan em uma coletiva de imprensa em Budapeste, onde está em visita oficial.
Erdogan, que disse estar acompanhando o caso pessoalmente, acrescentou que a Turquia não tem documentos ou provas referentes ao caso à disposição.
A Arábia Saudita nega as acusações. Em entrevista na sexta-feira (6) à agência Bloomberg, o príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman afirmou que Jamal Khashoggi “entrou” efetivamente no consulado, mas pouco depois saiu da sede diplomática.
Khashoggi é um rosto familiar nos talks shows políticos de redes de televisão árabes e costumava aconselhar o príncipe Turki al-Faisal, ex-chefe de inteligência e embaixador saudita nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Preocupação internacional
O jornal americano The Washington Post, com o qual o jornalista saudita colaborava, pediu aos Estados Unidos em um editorial do último domingo para “exigir respostas fortes e claras” da Arábia Saudita.
O escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) também expressou grande preocupação com o “desaparecimento aparentemente forçado” e o possível assassinato do jornalista e exortou a Turquia e a Arábia Saudita a investigarem.
“Se as reportagens sobre sua morte e as circunstâncias extraordinárias que levaram a ela forem verdadeiras, isto é realmente chocante”, disse a porta-voz de direitos humanos da ONU, Ravina Shamdasani, em um boletim à imprensa em Genebra.
“Pedimos uma cooperação entre a Turquia e a Arábia Saudita para a realização de uma investigação imediata e imparcial das circunstâncias do desaparecimento do senhor Khashoggi e para que as descobertas sejam levadas a público”, disse Ravina. Os dois países têm tal obrigação, conforme as leis criminal e internacional de direitos humanos, afirmou ela.
(Com AFP e Reuters)