Turquia bombardeia curdos na Síria após debandada dos EUA
Ataque prepara o terreno para a ofensiva militar com objetivo de criar "zona de segurança" para refugiados sírios e derrotar as milícias
A Turquia bombardeou o nordeste da Síria, preparando o terreno para uma ofensiva militar de avanço pelo território controlado pelos curdos, seus inimigos. Ancara espera criar uma “zona de segurança” em território sírio, para onde removeria os refugiados na Turquia. Para tanto, atacará grupos armados ali presentes, como o Exército de Proteção Popular (YPG), que considera terrorista.
O YPG foi um dos principais aliados dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico (EI) na Síria. Os ataques turcos se deram após o início da retirada de tropas americanas da região, na segunda-feira 7.
Os bombardeios do Exército turco tiveram como alvo rodovias e estradas, de forma a negar aos curdos a possibilidade de fortalecer suas posições e de defesa. A agência estatal de notícias síria Saana divulgou um vídeo mostrando explosões em uma das duas cidades no nordeste do país que foram alvos das bombas.
A ofensiva é uma promessa de longa data do presidente turco, Recep Erdogan, que só não atacou a região antes por causa da presença militar americana. Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que seu país retirava-se da região, deixando o YPG à merce do governo turco. Na véspera, acertara sua iniciativa com Erdogan, que o visitará em Washington em novembro deste ano.
Um porta-voz curdo tratou dessa decisão como “uma facada nas costas”. O Departamento de Defesa insistiu nesta terça-feira, em nota, que a criação da “zona de segurança” é o “melhor caminho para manter a estabilidade”.
“Infelizmente, a Turquia decidiu atuar unilateralmente. Por isso, nós movemos as forças dos Estados Unidos no norte da Síria fora do caminho da potencial incursão da Turquia para manter a sua segurança. Nós não fizemos mudanças na nossa presença na Síria até o momento”, informou o porta-voz do Pentágono, Jonathan Hoffman.
Erdogan espera criar uma “zona de segurança” na fronteira para realocar os cerca de três milhões de refugiados que estão abrigados em seu país e afastar os grupos armados curdos do território turco. Seu objetivo é tornar inviável a suposta criação de um território autônomo na região. O plano turco é rechaçado pelo governo sírio, que vê a ofensiva como uma violação de sua soberania.
Os curdos são uma etnia turcomana que buscam a criação de um Estado independente no Oriente Médio. Atualmente, há 35 milhões de curdos espalhados pelo nordeste da Síria, norte do Iraque e, majoritariamente, na Turquia. Ancara considera o YPG um braço armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), partido político considerado terrorista tanto pelos governos turco e americano.
Trump tentou acalmar as críticas a sua decisão de retirar as tropas americanas daquela região especialmente vulnerável. O presidente americano avisou Ancara que “se eu encontrar algo que, na minha grande e inigualável sabedoria, considere fora dos limites, vou destruir totalmente a economia da Turquia“.
A relação entre Estados Unidos e Turquia, integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e segundo maior exército do grupo, estava desgastada desde a desistência de Ancara de comprar o caça de combate americano F-35 e de optar pelo sistema de defesa S-400, da Rússia.