Turquia acredita que jornalista saudita foi morto em consulado de Istambul
Repórter crítico ao governo da Arábia Saudita desapareceu na semana passada após visita ao consulado de seu país na capital turca
A polícia da Turquia acredita que o jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido desde a semana passada, foi morto no consulado da Arábia Saudita em Istambul. Para as autoridades turcas, trata-se de um ataque deliberado a um crítico proeminente dos governantes do reino.
Nesta segunda-feira (8), o governo turco pediu permissão aos sauditas para fazer buscas em seu consulado, segundo o jornal turco Hürriyet. A Arábia Saudita, porém, tem todo o direito de negar o pedido, uma vez que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas prevê que representações de um país no exterior são territórios soberanos.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Turquia, Sedat Önal, convocou ontem o embaixador saudita, Walid bin Abdulkarim al Khereiji, ao ministério para transmitir o pedido formal para efetuar as buscas.
Khashoggi, ex-editor de jornal e consultor do ex-chefe de inteligência da Arábia Saudita, deixou o país no ano passado dizendo temer uma retaliação por suas crescentes críticas à política saudita na guerra do Iêmen e à repressão aos setores divergentes.
Na terça-feira (2), ele entrou no consulado saudita em Istambul para obter documentos para seu futuro casamento. Autoridades sauditas dizem que ele deixou o prédio pouco depois. Mas sua noiva, que o estava esperando do lado de fora, afirma que ele nunca saiu do consulado.
Yasin Aktay, um dos assessores do presidente da Turquia, Recep Erdogan, afirmou que as autoridades locais têm informações concretas sobre o caso de Khashoggi. Para ele, o jornalista foi morto no consulado.
Outra autoridade turca falou sob condição de anonimato e revelou que a polícia divulgará em breve provas para apoiar sua avaliação de que o jornalista está morto. Alguém no consulado tentou fazer com que seu corpo desaparecesse dentro do prédio, disse a autoridade.
“Não temos certeza de como isso aconteceu, mas acreditamos que o corpo de Khashoggi não saiu do consulado”, disse o funcionário.
Já o jornalista turco Turan Kislakçi, amigo de Khashoggi e dirigente da Associação de Imprensa Turco-Árabe, afirmou ao Hürriyet que o corpo do jornalista saudita foi esquartejado e posteriormente retirado do consulado por uma equipe de 15 agentes sauditas.
A agência de notícias turca Anadolu informou há vários dias que a polícia investiga um grupo de 15 cidadãos sauditas que chegaram em dois voos a Istambul e se encontravam no consulado ao mesmo tempo em que o jornalista. Eles retornaram a seu país pouco depois.
O consulado saudita em Istambul rejeitou no domingo de forma taxativa a acusação “infundada” de que as autoridades de Riad estariam envolvidas no suposto assassinato.
A ONG Anistia Internacional (AI) declarou que o assassinato de Khashoggi no consulado, que é território saudita, equivaleria a uma “execução extrajudicial”.
A AI também pediu às autoridades turcas que tornem públicos os resultados de sua investigação.
(Com Reuters, Estadão Conteúdo e EFE)