Truss perde segundo ministro em uma semana e sofre pressão para se demitir
Ainda não se sabe se a secretária de Estado, Suella Braverman, pediu demissão ou foi demitida, aumentando a crise no governo da premiê
A secretária de Estado do Reino Unido, Suella Braverman, deixou o cargo nesta quarta-feira, 19, colocando ainda mais pressão sobre o governo da primeira-ministra Liz Truss. Ela é a segunda ministra a deixar o cargo em uma semana.
Figura popular na ala direita do Partido Conservador, Braverman é uma forte defensora de políticas de imigração mais restritivas e apoiou o controverso plano de deportar refugiados para Ruanda. Ainda não está claro se ela foi demitida ou pediu demissão.
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Antes dela, Truss demitiu o chefe das Finanças, Kwasi Kwarteng, na última sexta-feira, 14, depois que o pacote econômico elaborado pela pasta assustou os mercados financeiros, que tinha como proposta cortar 45 bilhões de libras (R$266,4 bilhões) de impostos sem qualquer financiamento estatal.
A resposta da bolsa prejudicou o valor da libra e aumentou ainda mais o custo dos empréstimos do governo do britânico, obrigando o Banco Central a intervir para evitar que a crise se espalhasse para a economia geral e colocasse em risco os fundos de pensão.
Em meio a turbulência, Truss foi obrigada a comparecer ao Parlamento para uma sessão de perguntas, onde se descreveu como “uma lutadora, e não uma desistente” e pediu desculpas pelos erros cometidos durante seu curto período como premiê britânica.
Em meio a gritos da oposição para que ela renunciasse, a primeira-ministra insistiu que, ao mudar de rumo, ela “assumiu a responsabilidade e tomou as decisões certas no interesse da estabilidade econômica do país”.
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Na segunda-feira 17, o novo chefe das Finanças, Jeremy Hunt, descartou quase todos os cortes propostos inicialmente por Truss juntamente com sua principal política energética e sua promessa de não cortar gastos públicos. Segundo ele, o governo precisará economizar bilhões de libras e há “muitas decisões difíceis” a serem tomadas antes que ele defina um plano fiscal de médio prazo, previsto para 31 de outubro.
Números oficiais divulgados pelo governo mostram que a inflação atingiu 10,1% em setembro e retornou a uma alta de 40 anos atingida pela primeira vez em julho, com o aumento dos preços dos alimentos sendo o principal responsável. Embora os índices estejam altos em todo o mundo, principalmente por conta da guerra na Ucrânia, pesquisas apontam que a população britânica enxerga o governo como o principal culpado.
Em meio a tanta incerteza, a oposição acusa o governo conservador de semear o caos ao mudar suas políticas. Nesta quarta, Truss anunciou que as aposentadorias continuariam a ser reajustadas de acordo com a inflação, menos de 24 horas depois de seu porta-voz dizer que ela estava considerando remover a promessa para cortar gastos públicos.
Pesquisas de opinião têm dado ao Partido Trabalhista uma grande e crescente vantagem, e muitos conservadores agora acreditam que a única esperança de evitar a apatia dos eleitores é substituir a premiê. Apesar da pressão, ela insiste que não vai deixar o cargo, e os legisladores estão divididos sobre como se livrar dela.
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De acordo com a legislação britânica, a convocação de uma eleição geral não precisa acontecer até 2024 e é nisso que a premiê se apega. Segundo ela, “o importante é trabalharmos juntos para passar por este inverno e proteger a economia”.
Dentro das leis de seu próprio partido, ela está salva de sofrer um desafio de liderança por um ano, mas as regras podem ser alteradas se um número suficiente de legisladores assim o desejar. Ao mesmo tempo, muitos deles acreditam que Truss será forçada a renunciar caso o Partido Conservador encontre um novo substituto.
Por enquanto, não há nenhum favorito. Todos os outros que concorreram nas últimas eleições, há pouco mais de um mês, tem seus apoiadores, mas ainda parece cedo demais para cravar que um deles possa angariar um número suficiente de legisladores.
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Surgiram boatos de que alguns membros estavam até cogitando a volta de Boris Johnson, obrigado a renunciar após uma série de escândalos em seu governo mas, segundo ele, “defenestrar outro primeiro-ministro não é a coisa certa a se fazer”.