Trump diz que tarifas trazem ‘números recordes’ e inflação caiu, mas não é bem assim
Dados do Departamento de Estatísticas Trabalhistas dos EUA pintam quadro mais complexo, ainda sem o efeito do tarifaço imposto em 2 de abril

O presidente americano, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira 15 que o custo de todos os produtos – incluindo gasolina e alimentos – estão caindo e, em paralelo, que as tarifas geram “números recordes” em receitas para os Estados Unidos. O chefe da Casa Branca também afirmou que a inflação no país está baixa, sem divulgar dados específicos, de acordo com uma publicação na sua rede social, a Truth.
“Os Estados Unidos estão recebendo NÚMEROS RECORDES em tarifas, com o custo de quase todos os produtos caindo, incluindo gasolina, mantimentos e praticamente todo o resto”, escreveu Trump na noite de terça. “Da mesma forma, a INFLAÇÃO está baixa. Promessas feitas, promessas cumpridas!”, completou.
Embora o presidente americano possa ter acesso a informações que ainda não foram divulgadas, os dados mais recentes do Departamento de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos pintam um quadro muito mais complexo do estado da economia americana.
Quadro complexo – e incompleto
Durante sua campanha presidencial no ano passado, Trump prometeu reduzir o custo de vida para os americanos, já frustrados com o aumento da inflação durante o governo de seu antecessor, o democrata Joe Biden.
Nas últimas semanas, cresceram os temores de que o tarifaço do governo Trump possa, na verdade, elevar ainda mais os preços para o consumidor nos Estados Unidos. Os americanos estão ficando impacientes. Pesquisas recentes mostram que a maioria não apoia a maneira como Trump gere a economia do país e põe a culpa nele, não em Biden, pelo alto custo de vida.
De acordo com os dados mais recentes do Departamento de Estatísticas Trabalhistas, o atual presidente está correto sobre a inflação: o índice de preços ao consumidor (IPC) caiu 0,1% em março, com ajuste sazonal, após alta de 0,2% no mês anterior. A taxa de inflação dos últimos 12 meses caiu para 2,4%, 0,4 pontos percentuais a menos que em fevereiro. Foi uma queda mais acentuada do que esperavam especialistas, e marca a menor taxa de inflação anual em seis meses.
Mas os dados foram publicados antes de Trump impor uma taxa-base de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, além de tarifas de 145% sobre todas as mercadorias chinesas, o que deve elevar os preços para o consumidor americano.
Os dados mais recentes da Associação Americana de Automóveis (AAA) corroboram a fala do presidente sobre o preço da gasolina na bomba estar caindo. O custo médio nacional de um litro de gasolina comum é de cerca de R$ 4,93 na cotação desta quarta-feira, uma queda em relação à semana anterior (R$ 5,02) ao ano anterior (R$ 5,65). No entanto, subiu em relação a fevereiro, quando o litro da gasolina estava em cerca de R$ 4,78. Só que a queda está relacionada muito mais à atual turbulência no mercado de petróleo bruto do que às políticas de Trump.
Enquanto isso, os números do Departamento de Estatísticas Trabalhistas não capturaram as quedas no custo dos alimentos que o presidente comemorou em sua publicação nas redes sociais. De acordo com seu último relatório, os preços dos produtos — excluindo alimentos e energia — subiram 0,2% em março. Produtos no supermercado subiram ainda mais (0,5% em relação a fevereiro).
Os ovos, em particular, continuam a pesar no bolso dos americanos, apesar dos esforços do governo Trump para combater a escassez causada pela gripe aviária, com a importação inclusive de ovos brasileiros. O índice de preços ao consumidor (IPC) dos ovos subiu 5,9% em relação a fevereiro e 60,4% em relação a março de 2024. O preço médio da dúzia saltou 5,6%, atingindo o recorde de US$ 6,23 (R$ 36,61, na cotação atual).
O custo de roupas, que tem dependência alta de importações, aumentou 0,7% em março em comparação com fevereiro.