Trump culpa Ucrânia pela guerra e diz que Zelensky devia ter feito acordo com Rússia
Presidente dos EUA rebate Kiev, que protestou por ter sido deixada de fora das negociações entre Washington e Moscou

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rebateu na noite de terça-feira 18 os protestos de Volodymyr Zelensky pelo fato da Ucrânia ter sido deixada de fora das negociações entre Washington e Moscou sobre o fim da guerra, culpando Kiev pelo conflito e dizendo que a pequena nação europeia deveria ter firmado um acordo com a Rússia para evitar a invasão.
“Estou muito decepcionado, ouvi dizer que eles estão chateados por não terem um assento (nas negociações)“, disse Trump a repórteres em seu resort Mar-a-Lago, na Flórida, quando questionado sobre a reação ucraniana. O presidente disse que até um negociador “inexperiente” poderia ter garantido um acordo anos atrás “sem perder muita terra”.
“Hoje ouvi (de Zelensky), ‘Ah, bem, não fomos convidados.’ Bem, você está há três anos (na guerra)… Você nunca deveria ter começado. Você poderia ter feito um acordo”, completou.
Na coletiva, Trump também se disse “muito confiante” de que um acordo para o fim da guerra na Ucrânia está próximo, apesar da posição de Kiev, e aumentou a pressão sobre Zelensky para realizar eleições – ecoando uma das principais demandas de Moscou. O mandato do ucraniano expirou em maio passado, sem novo pleito porque o país está em estado de sítio, algo que um cessar-fogo anularia, e os russos têm a esperança de ejetar o atual líder do poder.
O presidente dos Estados Unidos sugeriu ainda que poderia se encontrar com seu homólogo russo, Vladimir Putin, antes do final do mês. É congruente com a mudança da posição de Washington em relação à Rússia, que vem alarmando líderes europeus.
“Pelas costas da Ucrânia”
Zelensky criticou mais cedo na terça-feira as negociações EUA-Rússia na Arábia Saudita por excluírem Kiev, dizendo que os esforços para acabar com a guerra devem ser “justos” e envolver países europeus. Ele adiou uma viagem a Riade, para evitar dar legitimidade às conversas.
As negociações “estão ocorrendo entre representantes da Rússia e representantes dos Estados Unidos da América. Sobre a Ucrânia, mas sem a Ucrânia”, ele disse.
Os comentários do presidente ucraniano pareceram irritar Trump, que começou a lançar uma série de ataques a Zelensky. Questionado se os Estados Unidos apoiariam as exigências da Rússia para forçar a Ucrânia a realizar novas eleições, disparou: “O povo da Ucrânia não teria voz? Já faz muito tempo que não temos uma eleição.”
“Temos uma situação em que não tivemos eleições na Ucrânia, onde temos essencialmente lei marcial na Ucrânia, onde o líder na Ucrânia — odeio dizer isso, mas ele está com 4% de aprovação — e onde um país foi explodido em pedacinhos. A maioria das cidades está caída. Os prédios estão desabados. Parece um enorme local de demolição”, completou.
Em uma entrevista à emissora pública alemã ARD na terça-feira, Zelensky defendeu sua popularidade, dizendo que tornou-se presidente “porque 73% das pessoas votaram em mim”, e continua no posto “porque a maioria no meu país me apoia”.
“É claro que a Rússia quer se livrar de mim. Talvez não mais fisicamente, como fizeram no início da guerra, mas politicamente. E isso é absolutamente compreensível, pois sou uma pessoa muito desconfortável, desconfortável para Putin”, acrescentou.
Concessões à Rússia
Sean Savett, que foi porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca sob o então presidente Joe Biden, disse em uma postagem nas redes sociais: “Parece que Trump comprou a propaganda de Putin. Um lembrete que ninguém precisa: Putin começou a guerra invadindo a Ucrânia sem provocação e suas forças cometeram crimes de guerra contra o povo ucraniano. A Rússia é a parte responsável por essa guerra continuar.”
Os líderes europeus estão cada vez mais temerosos de que Trump esteja dando concessões demais à Rússia em sua busca pelo acordo com a Ucrânia, que ele prometeu selar antes mesmo de assumir o cargo. Mas o republicano insiste que seu único objetivo é a “paz”. para acabar com o maior conflito bélico na Europa desde a II Guerra Mundial.
Depois de um telefonema de noventa minutos entre os líderes americano e russo na semana passada, Pete Hegseth, secretário da Defesa dos Estados Unidos, proclamou que seria “irrealista” restaurar a integridade territorial ucraniana no âmbito de um armistício e descartou a entrada do país na Otan, jogando a responsabilidade de dar garantias de segurança a Kiev para a Europa. Essencialmente, deu o pontapé inicial ao processo de paz nos termos de Putin.
Trump acrescentou que é “totalmente a favor” da criação de uma força de paz com tropas europeias na Ucrânia se ele pudesse fechar um acordo para acabar com a guerra. “Sei que a França está disposta a fazer isso, e eu pensei que é um gesto lindo”, acrescentou, mas enfatizou que os Estados Unidos “não teriam que contribuir porque estamos muito longe”. O Reino Unido fez proposta semelhante, mas disse que só estaria disposto a levá-la a cabo com o apoio de militares americanos.
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, que se encontrou com o secretário da Defesa americano, Marco Rubio, em Riade na terça-feira, porém, disparou que seu país não aceitaria forças de paz da Otan na Ucrânia.