Trump confirma tarifas recíprocas dos EUA; Brasil pode ser afetado
Mais cedo, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca afirmou que a política comercial será ditada pelo princípio da reciprocidade

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta sexta-feira, 7, que fará um anúncio sobre tarifas recíprocas, cumprindo uma promessa de campanha de impor tarifas sobre importações americanas iguais às taxas que parceiros comerciais impõem sobre exportações de Washington – o Brasil, no caso, cobra mais para vender suas mercadorias do que paga para receber as remessas da América do Norte. A declaração confirma relatos publicados mais cedo pela agência de notícias Reuters.
“Anunciarei na semana que vem um comércio recíproco para que sejamos tratados igualmente com outros países, não queremos mais nem menos. Então, anunciarei na semana que vem”, disse Trump, após uma reunião bilateral com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba.
Atualmente, os Estados Unidos têm uma tarifa média ponderada de importação de 2% sobre bens industriais. Metade de todas as importações de bens industriais, que representam 94% das importações dos EUA, é isenta de impostos.
Em entrevista coletiva junto de Ishiba, Trump reiterou que tarifas recíprocas são a “única maneira justa de fazer isso, dessa forma ninguém sai prejudicado”.
“Eles nos cobram, nós cobramos deles. É a mesma coisa”, disse Trump, respondendo a uma pergunta de um repórter sobre se o presidente imporia tarifas sobre o Japão. Trump não respondeu diretamente à pergunta.
“Reciprocidade”
Mais cedo nesta sexta-feira, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, afirmou que a política comercial dos Estados Unidos será ditada pelo princípio da reciprocidade, não só em relação a tarifas mas também em outras áreas.
Em entrevista à Bloomberg, Hassett citou dados que mostram que empresas americanas gastaram US$ 370 bilhões em taxas para outros países em 2023, enquanto as estrangeiras pagaram apenas US$ 57 bilhões nos EUA. “Isso não é reciprocidade de maneira alguma”, disse.
Brasil na mira?
Como os detalhes da proposta não foram divulgados, não se sabe quais países seriam afetados no primeiro momento. Porém, se o critério for o desequilíbrio na alíquota, o Brasil pode ser afetado.
A tarifa média de importação aplicada aos produtos brasileiros no exterior é de 4,6%, segundo um estudo de 2021 da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além de ser 2,6 pontos percentuais maior que a americana, também se destaca em relação à média dos demais países analisados pelo estudo, que é de 2,3%.
Entre os 18 países selecionados pelo levantamento, o Brasil é aquele que está submetido à terceira maior tarifa de importação (4,6%) quando busca acessar mercados estrangeiros. O país está atrás apenas da Argentina (5,3%) e da Índia (4,8%).
Na América Latina, com exceção da Argentina e do Brasil, os demais países chamam a atenção pela baixa tarifa média a que estão sujeitos ao exportar seus produtos: Colômbia (1,2%), Chile (1,2%), Peru (1,1%) e México (0,4%). No grupo do BRICS, a alíquota brasileira é a segunda maior, atrás da Índia, mas inferior à das demais economias: China (3,7%), África do Sul (2,4%) e Rússia (2,0%).
Guerra comercial
Trump vem forçando os líderes mundiais a mudar suas estratégias, levando-os à mesa usando o poderio econômico dos Estados Unidos. Afinal, há muito poder de fogo em taxar os 4 trilhões de dólares anuais de importações americanas, o dobro do PIB brasileiro. E, já que tarifas não dependem da aprovação do Congresso, faz como bem entender.
O primeiro movimento veio na forma de imposição de tarifas de 25% aos produtos importados do México e do Canadá, os dois principais parceiros comerciais dos Estados Unidos — juntos, os vizinhos somam quase 30% do fluxo comercial americano. Ninguém quis pagar para ver e, rapidamente, os países demonstraram disposição em negociar temas que não guardam nenhuma relação com comércio exterior. Ambos se comprometeram a reforçar a segurança nas fronteiras para impedir a imigração ilegal e conter o tráfico de fentanil, a droga que se espalha com rapidez epidêmica nas grandes cidades americanas. O esforço diplomático renderia o adiamento da taxação por trinta dias.
No Brasil, o governo ainda mede a forma como o tarifaço pode impactar a economia. O país importa mais do que exporta dos Estados Unidos e não está no rol das nações que levam a balança comercial americana para o vermelho. No ano passado, teve déficit de 6,8 bilhões de dólares.
Mas o Planalto não descarta a possibilidade de retaliações pontuais, principalmente entre os produtos nacionais que enfrentam a concorrência americana no mercado externo, como o etanol. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também disse que vai trabalhar com o princípio da reciprocidade se tarifas forem impostas e alertou para o fato de Trump governar por meio de “bravatas”.
A ordem no Itamaraty, por ora, é a cautela. “Melhor ficarmos quietos, se não eles lembram que a gente existe”, disse um diplomata a VEJA.