Trump cometeu ‘fraude eleitoral’ em 2016, dizem promotores em julgamento
Ex-presidente dos EUA pode testemunhar em caso sobre suposto suborno a ex-atriz pornô, que ele teria feito antes do pleito de oito anos atrás
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump compareceu novamente ao tribunal de Nova York no âmbito do caso de subornos à ex-atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels. Nesta segunda-feira, 22, os promotores afirmaram, durante os argumentos iniciais, que o empresário infringiu a lei com o suposto pagamento secreto, que caracterizaram como “um esquema criminoso para corromper as eleições de 2016”, das quais ele saiu vitorioso.
“Olha, nenhum político quer publicidade ruim, mas as provas no julgamento mostrarão que isto (esconder os pagamentos) não foi uma estratégia de comunicação ou de mentira. (Trump) queria ocultar a conduta criminosa dele e de outros”, disse o procurador Matthew Colangelo.
Segundo o procurador, o esquema para esconder as transferências de dinheiro à estrela de filmes pornô, para comprar seu silêncio a respeito de um suposto caso extraconjugal entre os dois, “foi uma conspiração planejada, coordenada e de longa duração para influenciar as eleições de 2016”. Colangelo sustentou que a estratégia ajudou Trump a ser eleito, pois evitou que informações negativas sobre o então candidato presidencial viessem à tona.
“Foi uma fraude eleitoral pura e simples”, resumiu ele.
Polêmicas na campanha de 2016
Colangelo relembrou que, em sua primeira disputa pela Casa Branca, Trump já estava envolvido em uma polêmica devido a uma gravação vazada que deteriorou sua imagem. No áudio, o empresário se gabava de poder cometer agressão sexual contra mulheres porque era famoso. “Quando você é uma estrela, elas deixam você fazer isso. Você pode fazer qualquer coisa… Agarre-as pela vagina. Você pode fazer qualquer coisa”, disse o republicano na gravação.
O promotor afirmou que, depois do vazamento do áudio, sua campanha entrou “em modo de controle imediato de danos” e que o caso entre Trump e Stormy Daniels, se também viesse à tona, poderia afundar ainda mais sua imagem.
Relembre o caso
A ação no tribunal está ligada à descoberta de um suposto esquema, cujo objetivo seria impedir que os casos extraconjugais de Trump, com Daniels e McDougal, viessem à tona e chegassem aos ouvidos dos eleitores às vésperas do pleito presidencial de 2016 (que ele venceu).
Segundo os promotores, isso ocorreu porque o então candidato temia ter a imagem prejudicada pela descoberta. Então, pagou 130.000 dólares a Daniels (cerca de 442.000 reais na cotação da época) apenas doze dias antes da eleição, para comprar seu silêncio. Porém, ele fez isso através de seu advogado, Michael Cohen, que transferiu o dinheiro por meio de uma empresa de fachada.
Depois de vencer a eleição em 2016, Trump restituiu Cohen com uma série de cheques mensais, que vinham ou de um fundo de ativos da empresa do então presidente ou de sua própria conta bancária. Foram onze cheques, nove dos quais o próprio Trump assinou. No entanto, os gastos foram registrados enganosamente como “despesas legais” com seu advogado.
A empresa do então presidente, a Trump Organization, processou esses cheques “disfarçados como um pagamento por serviços jurídicos prestados segundo um acordo de retenção inexistente”, disseram os promotores. Por isso, no ano passado, o republicano foi indiciado com 34 acusações de falsificação de registros comerciais. Trump fez isso “com a intenção de fraudar, de cometer crime, e ajudar a ocultar a prática do mesmo”.
Outros casos
Contando com o processo dos subornos secretos, Trump enfrenta 92 acusações criminais no total, em quatro investigações diferentes:
- O ex-presidente foi indiciado por reter documentos secretos da Casa Branca após deixar a Presidência e exibi-los a amigos em seu clube de campo, incluindo textos contendo informações ultrassecretas sobre o arsenal nuclear dos Estados Unidos.
- Numa ação movida pelo Departamento de Estado, ou seja, de âmbito federal, Trump é acusado de tentar anular sua derrota eleitoral de 2020, um esforço que culminou na invasão do Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, por seus apoiadores, a fim de impedir o Congresso de certificar a vitória de Joe Biden.
- Uma ação movida pelo estado da Geórgia também está relacionada à tentativa de subversão do resultado das eleições
Fora isso, Trump perdeu dois processos civis recentemente – um por difamar a escritora E. Jean Carroll, alegando que ela mentiu quando o acusou de tê-la estuprado, e outro por fraude, aumentando artificialmente o valor de suas propriedades em Nova York para obter negócios melhores com seguradoras e credores. Até agora, ele deve mais de 500 milhões de dólares por essas derrotas.