Trump atribui trégua em Gaza à sua eleição e promete ‘promover paz pela força’
Republicano disputa com Biden crédito pelo avanço após meses de impasses nas negociações, em eco da transição de governo entre Carter e Reagan em 1981

Israel e Hamas enfim chegaram a um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que inclui a libertação de reféns israelenses em troca de palestinos detidos por Tel Aviv, informaram as agências de notícias Reuters e The Associated Press, bem como o jornal The Times of Israel, nesta quarta-feira, 15. O avanço ocorreu após meses de esforços de negociadores dos governos do Catar, do Egito e dos Estados Unidos, que viajaram de um lado para o outro pelo Oriente Médio em busca de resolver os impasses entre as duas partes.
Mas o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, atribuiu o avanço à sua própria vitória eleitoral em novembro do ano passado. Em uma postagem na sua rede social, a Truth, ele chamou o acordo de épico, mencionou eventual expansão dos Acordos de Abraão (iniciativa para a normalização das relações entre países árabes e Israel, marca de sua primeira passagem pela Casa Branca) e disse que seu governo vai “continuar promovendo a paz por meio da força”.
“Esse acordo de cessar-fogo épico só poderia ter acontecido como resultado da nossa histórica vitória em novembro, porque alertou o mundo todo de que minha administração vai buscar a paz e negociar acordos para garantir a segurança de todos os americanos e nossos aliados. Estou empolgado com o retorno de reféns americanos e israelenses para suas casas”, escreveu o republicano.
O acordo aprovado por Israel e pelo Hamas foi mediado por autoridades de Washington, mas na maior parte ainda sob o governo do atual presidente americano, Joe Biden, cujo plano de cessar-fogo em etapas foi a base para as negociações. O democrata, mais cauteloso com a notícia, está se preparando para abordar o assunto na quinta-feira, 16, segundo a Associated Press.
Suas equipes trabalharam em conjunto nas negociações, embora ambos disputem o crédito pelo avanço. Na semana passada, Trump ameaçou o Hamas, prometendo que o grupo terrorista conheceria o inferno se os reféns não fossem libertados até o dia 20. Enquanto isso, Biden corria por fora, acelerando as negociações para demarcar o seu legado no Oriente Médio antes de deixar o cargo. O presidente americano antecipou a iminência de um acordo, como fez, sem sucesso, em outras ocasiões.
Na publicação desta quarta-feira, Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos na próxima segunda-feira, 20, prometeu continuar a trabalhar em estreita colaboração com Israel para garantir que Gaza “nunca mais se torne um refúgio seguro para terroristas”, com laudas ao seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff — que ele despachou ao Catar e a Israel com o objetivo de forçar Benjamin Netanyahu a ceder às exigências que alegava serem intransponíveis para os representantes de Biden: primeiro, a perseguição da vitória total sobre o Hamas; depois, a manutenção das tropas israelenses no Corredor Filadélfia, uma zona-tampão entre a Faixa de Gaza e o Egito.
“Continuaremos a promover a paz por meio da força na região, enquanto aproveitamos o momento do cessar-fogo para expandir os históricos Acordos de Abraão. Esse é apenas o começo de grandes coisas que virão para os Estados Unidos e para o mundo”, publicou. “Alcançamos muito mesmo não estando na Casa Branca. Imagine todas as coisas maravilhosas que acontecerão quando eu retornar à Casa Branca e minha administração estiver totalmente confirmada.”
A situação lembra os últimos momentos de Jimmy Carter, ex-presidente americano falecido em dezembro passado, no poder. Após 444 dias da crise dos reféns no Irã, quando 53 americanos foram detidos na invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerã, ele finalmente conseguiu assegurar a libertação dos cidadãos.
No entanto, a questão custou-lhe a vitória nas eleições, e autoridades iranianas só permitiram a decolagem dos aviões que levaram os reféns para casa depois da posse de Ronald Reagan, em 1981, que tomou o crédito pela conquista.