Trump acusa Biden de perseguição após ser considerado culpado de fraude
Depois de julgamento sobre falsificação financeira de pagamentos a atriz pornô, ex-presidente dos EUA diz que Biden interferiu no caso para prejudicá-lo
Após ser considerado culpado de 34 acusações criminais por falsificação de registros comerciais no caso sobre pagamentos secretos a uma ex-atriz pornô, em Nova York, o ex-presidente americano Donald Trump culpou o chefe da Casa Branca, Joe Biden, pelo veredito. Ele acusou o líder dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 30, de usar do sistema judiciário praticar perseguição política e chamou o julgamento de uma “desgraça”.
“Todo o nosso país está sendo fraudado neste momento”, disse Trump a repórteres depois de deixar o Tribunal Criminal de Manhattan. “Isso foi feito pela administração Biden para ferir ou prejudicar um oponente, um oponente político”.
Além disso, o candidato republicano à presidência disse que “o verdadeiro veredicto será dado pelo povo em 5 de novembro”, referindo-se às eleições dos Estados Unidos que ele provavelmente disputará contra Biden.
A equipe jurídica de Trump não emitiu uma declaração formal por enquanto, deixando que os comentários do ex-presidente sejam o posicionamento oficial a respeito do veredito.
“O país foi para o inferno”
O advogado do republicano, Todd Blanche, solicitou ao juiz responsável pelo caso, Juan Merchan, a absolvição das acusações, justificando que não havia como o júri ter chegado ao veredito de culpado sem o testemunho do ex-advogado Michael Cohen – que a defesa acredita ter cometido perjúrio no julgamento. O juiz negou o pedido de absolvição, mas Trump prometeu que vai continuar tentando provar sua inocência.
“Continuaremos lutando, lutaremos até o fim e venceremos, porque nosso país foi para o inferno”, disse ele, acrescentando que “não temos mais o mesmo país, temos uma bagunça dividida”.
“Vamos lutar pela nossa Constituição. Isto ainda está longe de acabar”, completou.
Além disso, ele classificou o julgamento como “fraudulento” e uma “desgraça”. “Não fizemos nada de errado. Sou um homem muito inocente”, atestou após deixar o tribunal.
Próximos passos
Merchan convocou para o dia 11 de julho uma nova audiência do julgamento, desta vez para definir a sentença cabível diante dos crimes cometidos.
Como Trump foi considerado culpado de 34 acusações, cada uma das quais é passível a quatro anos de prisão, na teoria, ele poderia ficar atrás das grades por até 136 anos. No entanto, ainda é incerto se ele realmente será preso. E, se for, isso não o impediria de continuar na corrida pela Casa Branca.
Inclusive, até agora, as acusações e julgamentos contra o ex-presidente só fizeram aumentar sua popularidade com o eleitorado, que muitas vezes compra a narrativa de que ele estaria sofrendo “perseguição política”. A audiência em que o juiz emitirá a sentença é bastante próxima da Convenção Nacional Republicana, que terá início no dia 15 de julho, quando Trump se tornará candidato oficial do partido – timing que pode dar novo impulso a sua campanha.
Relembre o caso
A ação no tribunal está ligada à descoberta de um suposto esquema ilegal durante a campanha presidencial de 2016, que levou Trump à Casa Branca, cujo objetivo seria blindar o republicano de “má publicidade” e preservar sua imagem perante o eleitorado. Um dos elementos desse esquema seria evitar que viessem à tona informações sobre um encontro sexual entre o bilionário e a atriz pornô Stormy Daniels, que havia ocorrido dez anos antes, logo após ele ter se casado com Melania.
Segundo os promotores, Trump e sua equipe decidiram oferecer US$ 130 mil (cerca de R$ 460 mil na cotação da época) a Daniels para comprar seu silêncio sobre o affair, um acordo fechado apenas doze dias antes da eleição. Porém, ele fez isso por meio de um “aviãozinho” – seu fiel advogado e espécie de “faz-tudo”, Michael Cohen, que transferiu o dinheiro por meio de uma empresa de fachada.
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Tragédia evitada, eleição vencida. Já como presidente, Trump restituiu Cohen com uma série de cheques mensais, que vinham ou de um fundo de ativos da sua empresa, a Trump Organization, ou de sua própria conta bancária. Foram 11 cheques no total, nove dos quais o próprio republicano assinou.
Não haveria nada de ilegal até aí. A questão é que, em registros comerciais, os gastos em cheques foram assinalados enganosamente como “despesas legais” com o advogado, Cohen. Por isso, no ano passado, o republicano foi indiciado com 34 acusações de falsificação de registros comerciais, para supostamente encobrir um pagamento.
Segundo os promotores, a empresa do então presidente, a Trump Organization, processou cheques “disfarçados como um pagamento por serviços jurídicos prestados segundo um acordo de retenção inexistente”. Enquanto isso, ainda de acordo com a acusação, Trump tinha “a intenção de fraudar, de cometer crime, e ajudar a ocultar a prática do mesmo”.