Trudeau renuncia e partido deve escolher novo líder para ser premiê do Canadá
Primeiro-ministro canadense continuará como interino até que o Partido Liberal eleja novo chefe; oposição conservadora pede eleições gerais
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou nesta segunda-feira, 6, sua renúncia à liderança do Partido Liberal, de centro-esquerda, após meses de pressão devido a uma profunda crise de confiança no governo. Isso significa que ele também deve deixar o cargo de premiê, mas, até que a legenda selecione um novo chefe, seguirá como interino.
“Cada osso do meu corpo sempre me disse para lutar, porque me importo profundamente com os canadenses”, disse Trudeau ao anunciar sua decisão em Ottawa, a capital do Canadá. “Pretendo renunciar como líder do partido e como primeiro-ministro depois que o partido selecionar um novo líder”, afirmou, acrescentando que refletiu sobre o assunto durante os feriados de fim de ano e contou à família na noite anterior.
Sua renúncia após mais de uma década no comando do Partido Liberal desencadeia uma batalha de sucessão para substituí-lo. A legenda pode escolher um novo líder com um processo de base que poderia levar várias semanas ou por meio de uma votação de deputados no Parlamento.
Após a declaração, ele pediu uma suspensão do Parlamento até 26 de março, período durante o qual seu sucessor deve ser escolhido. Mas, logo após o retorno das atividades legislativas, em março, espera-se que o Partido Liberal seja alvo de uma moção de desconfiança pela oposição. É provável que a legenda perca a votação, pois não tem maioria absoluta na Casa e perdeu o apoio de outras siglas menores.
“É hora de a temperatura baixar, para as pessoas terem um novo começo no Parlamento”, justificou, dizendo que se retirar da equação deve ajudar a lidar com a polarização, melhorar o funcionamento do Parlamento e colocar o país em um caminho melhor para as próximas eleições federais.
O fantasma Trump
Trudeau é primeiro-ministro desde 2015, quando ressuscitou os liberais, que haviam fracassado em diversas eleições antes de ele assumir a legenda, em 2013. Mas ele se tornou profundamente impopular durante a gestão: de acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pela Ipsos, 73% dos canadenses — incluindo 43% dos eleitores do Partido Liberal — acreditavam que ele deveria renunciar à liderança do partido.
A reviravolta ocorre diante da tensão sobre como lidar com o novo governo de Donald Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro e promete uma gestão marcada por nacionalismo econômico e protecionismo — incluindo uma ameaça de tarifas de 25% sobre todos os produtos canadenses. Ottawa e Washington são os maiores parceiros comerciais um do outro.
Trudeau visitou Trump em Mar-a-Lago, sua mansão-resort na Flórida, no fim de novembro e seu governo tem conversado com a equipe do presidente eleito dos Estados Unidos para abordar suas preocupações sobre a segurança da fronteira, na esperança de que o republicano reconsidere a ameaça de um tarifaço.
Crise no governo
A popularidade de Trudeau despencou em meio a uma inflação recorde, que levou a uma crise imobiliária aguda e à alta nos preços nos supermercados, provocando fadiga entre a população com o governo. Pesquisas recentes mostram que o Partido Liberal tem apenas 16% de apoio, sua pior avaliação pré-eleições em mais de um século, com o Partido Conservador, da oposição, na dianteira.
No fim de outubro, mais de vinte parlamentares da base do Partido Liberal assinaram uma carta pedindo que Trudeau deixasse o cargo, devido a temores de uma derrota sísmica na eleição federal, programada para 2026. A gota d’água foi a renúncia chocante de sua vice e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, em dezembro.
Freeland, ex-repórter do jornal britânico Financial Times, já havia recebido elogios por navegar no processo de renegociação do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte durante o primeiro governo Trump. A renúncia de um aliado-chave levou Ottawa ao caos e à retirada do apoio do New Democratic, um partido menor que havia mantido os liberais no poder, ao primeiro-ministro.
Ao anunciar sua renúncia, ela questionou a capacidade do primeiro-ministro para ser o timoneiro do Canadá durante o novo governo Trump.
“Precisamos levar suas ameaças extremamente a sério”, disse ela em uma carta de despedida, em que questionou se o governo entende a “gravidade do momento”.
Enquanto o Partido Liberal pedia sua renúncia, os conservadores defendem a convocação de eleições gerais. Um pleito precisa ser realizado até outubro, de acordo com as regras eleitorais do Canadá.
Em seu pronunciamento, Trudeau pediu aos canadenses que apoiem quem quer que o substitua como chefe do Partido Liberal, defendendo que a visão que o líder do Partido Conservador, Pierre Poilievre, tem para o Canadá é “sombria”. Ele disse acreditar que há alguém melhor do que ele para confrontar Poilievre nas próximas eleições federais.
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