Tribunal da Romênia anula eleições presidenciais após acusação de interferência da Rússia
Decisão imerge país numa crise política, já que o mandato do presidente Klaus Iohannis chega ao fim em 21 de dezembro, sem que haja um sucessor

O Tribunal Constitucional da Romênia anulou nesta sexta-feira, 6, o primeiro turno das eleições presidenciais do país, realizadas em 24 de novembro, após acusações de fraude e de interferência da Rússia. O segundo turno estava previso para este domingo, com eleitores no exterior já tendo iniciado o processo de votação.
“O processo eleitoral para eleger o presidente da Romênia será totalmente repetido, e o governo definirá uma nova data e calendário para as etapas necessárias”, disse a corte em um comunicado.
No pleito anulado, Calin Georgescu, nacionalista pró-Rússia que coleciona críticas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), havia conquistado quase 23% dos votos. Elena Lasconi, da União Salve a Romênia (USR), de centro-direita, arrematou 19,7% de apoio, ficando em segundo lugar.
O atual primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, de centro-esquerda, ficou em terceiro lugar e fora da disputa. Ele foi superado por Lasconi por apenas 0,02 ponto percentual. O resultado foi um choque, porque a maioria avassaladora das pesquisas de opinião apontava uma vitória confortável do premiê e apenas 5% das intenções de voto para Georgescu, aumentando suspeitas de fraude eleitoral.
Em meio à surpresa nas urnas, o tribunal romeno aprovou por unanimidade, ainda na semana passada, que o gabinete eleitoral “reverificasse e recontasse todos os votos válidos e inválidos”, uma vez que foram relatados “ataques cibernéticos com o objetivo de influenciar a correção do processo eleitoral”.
O texto também apontou um “interesse crescente” da Rússia, acusada de disseminar desinformação no país, em “em influenciar a agenda pública na sociedade romena”. Nesta quarta-feira, o principal conselho de segurança do país desclassificou documentos que apontavam para “ataques russos híbridos agressivos” ao longo do processo democrático. A Rússia, por sua vez, nega as alegações.
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Caos institucional
A decisão desta sexta-feira imerge o país numa crise política, já que o mandato do presidente Klaus Iohannis chega ao fim em 21 de dezembro, sem que haja um sucessor. No anúncio, a corte disse que buscava “garantir a imparcialidade e a legalidade” das eleições e que mais informações sobre as descobertas serão divulgadas em breve. Em meio à enxurrada de denúncias, não está claro se Georgescu será permitido de participar da segunda rodada do pleito. Espera-se que ele se dirija à população nesta tarde.
Aliado de Georgescu, o líder do partido ultradireitista Aliança para a União dos Romenos (AUR), George Simion, definiu a reversão dos resultados como um “golpe de Estado”. Ele alegou, ainda, que “nove juízes nomeados politicamente, com medo de que um candidato de fora do sistema tivesse chances de se tornar presidente da Romênia, decidiram anular o testamento dos romenos”. As críticas foram acompanhadas por Lasconi, que afirmou que a decisão é “ilegal, amoral e esmaga a própria essência da democracia, o voto”.