Traficantes matam quem desrespeita isolamento social na Colômbia
Contra Covid-19, grupos paramilitares ligados ao narcotráfico impõem toque de recolher na base da bala às populações carentes, relata HRW
Um relatório da organização social Human Rights Watch (HRW) mostra que o controle à pandemia de coronavírus na Colômbia está sendo feito na base da bala. Cartéis de drogas e grupos rebeldes estão impondo isolamento social e toque de recolher às comunidades carentes. Quem não respeita, morre.
Pelo menos oito civis foram assassinados pelos grupos armados, que usam o aplicativo WhatsApp para alertar os cidadãos sobre os bloqueios nas áreas rurais em que operam.
Em Tumaco, uma cidade portuária costa do Pacífico, conhecida pela pobreza e pela violência, os moradores foram proibidos de pescar pelas gangues e um toque de recolher, com início às 17 horas, foi imposto à população. As medidas prejudicam famílias pobres formadas por pescadores e vendedores ambulantes.
O relatório informa ainda que as gangues estão impedindo as pessoas de saírem de casa, para procurarem ajuda, mesmo estando doentes. Em duas províncias, Cauca e Guaviare, grupos armados incendiaram as motocicletas daqueles que ignoraram suas restrições.
“Eles interromperam o transporte entre as aldeias e, quando alguém é suspeito de ter o Covid-19, é dito para deixar a região ou eles serão mortos”, disse um líder comunitário na província de Putumayo, no sul da Colômbia, ao jornal britânico The Guardian, sob condição de anonimato.
No mês passado, um líder comunitário foi assassinado na cidade de San Miguel pela “La Mafia”, uma gangue de narcotraficantes, por ter denunciado as ordens de bloqueio da facção às autoridades locais.
A Colômbia diagnosticou o primeiro caso de Covid-19 em 6 de março. De lá para cá, o país registrou 159.898 casos, com 5.625 mortes. As infecções aumentam regularmente na base de 5.000 por dia.
O governo impôs isolamento social, em todo o país, mas as medidas nunca foram tão rigorosas quanto as decretadas pelos grupos armados.
A atuação de grupos paramilitares e facções de traficantes de drogas faz parte da história da Colômbia. Um acordo de paz assinado em 2016 entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o maior grupo rebelde da América do Sul, encerrou mais de cinco décadas de guerra civil. Mas vários grupos armados dissidentes das milícia ainda atuam no país. Grupos paramilitares rivais também controlam partes extensas do território. Todos são financiados com o tráfico de cocaína.
A Human Rights Watch pede no documento que o governo do presidente Iván Duque proteja a população que está à mercê dessas organizações.
“O governo deve acelerar urgentemente seus esforços para proteger essas comunidades, garantindo que elas tenham água e comida adequadas e protegendo sua saúde dos efeitos do Covid-19”, disse José Miguel Vivanco, diretor da HRW na América.