Terra arrasada: cessar-fogo revela imagens de destruição em Gaza
ONU estima que 69% das estruturas do enclave foram danificadas durante a guerra Israel-Hamas e que reconstrução pode levar até 350 anos

Cenas de celebração, abraços efusivos e esperança tomaram conta tanto de Israel quanto da Faixa de Gaza quando foi anunciado, na semana passada, que o governo israelense e o Hamas haviam chegado a um acordo de cessar-fogo. No domingo 19, as primeiras três reféns do grupo terrorista palestino foram libertas, em troca de 90 palestinos detidos por Tel Aviv, e ao que tudo indica, a trégua seguirá em vigor. No entanto, o fim das hostilidades no enclave revelou de forma incontestável, e pela primeira vez em 15 meses, a escala da destruição em Gaza, onde cidades inteiras foram reduzidas a ruínas.
Enquanto palestinos pegaram a estrada rumo a suas casas, que cerca de 90% da população de 2,3 milhões de pessoas foi obrigada a abandonar para fugir de ataques aéreos e combates entre as forças de Israel e combatentes do Hamas, as cenas que viram foram chocantes. Locais como a Cidade de Gaza, no centro do enclave, e Rafah, no sul, estão entre os pontos aos quais já é possível retornar, segundo os termos do cessar-fogo. O problema é que parece não haver para onde retornar: a paisagem é dominada por escombros.


Bombardeios israelenses constantes, que começaram assim que o Hamas invadiu comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, arrasaram quase por completo o enclave palestino. Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas em Gaza foram danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245 mil residências.
O Banco Mundial calculou que os prejuízos ultrapassam os 18,5 bilhões de dólares (cerca de 111 bilhões de reais) — quase a produção econômica da Cisjordânia e de Gaza juntas em 2022 — apenas nos primeiros quatro meses da guerra.



De acordo com avaliações das Nações Unidas, serão necessários dezenas de anos para reconstruir as casas destruídas em Gaza. Só a remoção das mais de 50 milhões de toneladas de escombros pode levar 14 anos e custar 1,2 bilhões de dólares (cerca de 7,2 bilhões de reais). O processo é agravado ainda pela presença de munições não detonadas e outros materiais nocivos sob os destroços, além de restos mortais das vítimas de bombas.
A situação será ainda pior caso Israel e Egito imponham restrições ao movimento de pessoas e mercadorias na Faixa de Gaza, como fizeram quando o Hamas tomou o poder no enclave, em 2007. As Nações Unidas estimam que pode levar mais de 350 anos para reconstruir tudo o que for perdido com esses potenciais bloqueios.



Sob a primeira fase do acordo, que deve durar 42 dias, o Hamas concordou em libertar 33 reféns, entre eles crianças, mulheres — incluindo militares — e pessoas com mais de 50 anos. Em troca, Israel libertaria 50 prisioneiros palestinos para cada mulher das Forças Armadas de seu país, e 30 para os demais reféns.
O acordo também exige que um projeto de reconstrução de Gaza comece em sua fase final, depois que todos os 98 reféns restantes forem libertados (incluindo aqueles sem vida) e as tropas israelenses tiverem se retirado do território palestino.



A possibilidade de reconstrução fica ainda mais nublada diante da incerteza a respeito do futuro governo, a substituir o braço político do Hamas. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, expôs um plano que envolve a implementação de um governo interino comandado pela Autoridade Palestina, que atualmente gere partes da Cisjordânia ocupada, em parceria com as Nações Unidas e representantes de nações parceiras. Além disso, soldados dessas nações seriam enviados à região para manutenção da segurança ao lado dos Capacetes Azuis das Nações Unidas.
Enquanto isso, a Autoridade Palestina, envolta em controvérsias devido a corrupção e ligações com membros de grupos militantes, seria reformada, para enfim assumir um governo fixo em Gaza. No entanto, Israel reiterou repetidamente que não aceitará a organização no comando do enclave que faz fronteira com seu país.