Tensão em Taiwan: Ainda bem que é apenas um ensaio
Exibição bélica foi aviso de que o governo de Pequim não gostou da recente visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taipei
A exibição bélica de mísseis, navios de guerra e jatos de caça promovida pela China ao longo de 72 horas, no céu de Taiwan, foi uma demonstração de força — e um aviso de que o governo de Pequim não gostou da recente visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taipei, capital do enclave que defende a autonomia. Os exercícios militares restringiram a circulação de navios e aeronaves ao redor do arquipélago. Não bastasse ter mostrado as garras afiadas, os chineses impuseram a proibição de importação de mais de 2 000 produtos taiwaneses. Visto de longe, o clima de guerra fria parece esquentar. É cedo, ainda, contudo, para temer pelo pior, embora a retórica de Xi Jinping, o mandachuva chinês, tenha elevado o tom exponencialmente. Na quarta-feira 10, foi divulgado um comunicado do Partido Comunista Chinês informando que “trabalhará com a maior sinceridade e esforço para garantir a reunificação pacífica”, mas — e sempre há um mas — com um alerta: “Não vamos abrir mão do uso de força para evitar interferência externa e todas as atividades separatistas”. O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, não piscou, como Davi a enfrentar Golias: “Eles não podem dizer quem pode ser nosso amigo ou com quem devemos fazer amizade”. O balé diplomático anda nervoso, com farpas frequentes, e não é impossível que desande — mas a ninguém, nem mesmo aos americanos, que cutucam a China e mantêm relações comerciais vitais com Taiwan, especialmente de eletrônicos, interessa uma guerra com esses atores.
Publicado em VEJA de 17 de agosto de 2022, edição nº 2802