Suu Kyi, ex-líder do Mianmar, é condenada a 5 anos de prisão por corrupção
É a primeira decisão entre 11 acusações de corrupção contra a líder deposta após um golpe militar em 2021; soma das sentenças resulta em prisão perpétua
Um tribunal de Mianmar, que agora é controlado pelos militares que governam o país, condenou Aung San Suu Kyi a cinco anos de prisão nesta quarta-feira, 27. A líder deposta foi considerada culpada no primeiro dos 11 casos de corrupção que ela enfrenta.
Ganhadora do Prêmio Nobel e líder da oposição de Mianmar ao regime militar, Suu Kyi é acusada de pelo menos 18 crimes, cujas penas máximas somadas resultam em quase 190 anos de prisão (ela tem 76). Ou seja, eliminam qualquer chance de um retorno político.
Suu Kyi ainda pode apelar a decisão.
Ela foi líder de Mianmar por cinco anos durante um curto período democrático, antes de ser forçada a deixar o poder após um golpe de estado pelos militares em fevereiro de 2021. O exército governou a ex-colônia britânica por cinco das últimas seis décadas.
Não ficou claro se ela seria transferida para uma prisão para cumprir a sentença. Desde que foi deposta, ela está detida em um local não revelado, em espécie de prisão domiciliar.
A condenação gira em torno de acusações de que Suu Kyi aceitou propina – 11,4 kg de ouro e pagamentos em dinheiro, totalizando US$ 600.000 – de seu protegido, Phyo Min Thein, o ex-ministro-chefe da cidade de Yangon. Depois, ele veio a tornar-se seu acusador.
Segundo a ex-líder de Mianmanr, as acusações são “absurdas”. Ela nega desde denúncias sobre violações de leis eleitorais e de segredos de Estado, até sobre incitação e corrupção.
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Phil Robertson, vice-diretor da Ásia da ONG Human Rights Watch, com sede em Nova York, disse que o exército busca uma sentença de prisão perpétua.
“Destruir a democracia popular em Mianmar também significa livrar-se de Aung San Suu Kyi, e a junta não está deixando nada ao acaso”, declarou Robertson.
Mianmar está em turbulência desde o golpe. A repressão de protestos em todo o país levou a dezenas de milhares de prisões e mortes. Segundo as Nações Unidas, muitas pessoas foram torturadas e espancadas, configurando crimes contra a humanidade.
A comunidade internacional impôs sanções aos militares e considerou os julgamentos de Suu Kyi ilegítimos. Os militares rejeitam as críticas estrangeiras como interferência.
Nay Phone Latt, ex-funcionário do partido de Suu Kyi, disse que as decisões judiciais são temporárias, porque o regime militar não durará muito.
“Não reconhecemos as decisões, a legislação ou o judiciário da junta terrorista”, disse Latt, que pertence ao governo paralelo de Unidade Nacional, que declarou uma revolta popular contra o regime militar. “Isso não vai durar.”