Soldado russo é condenado à prisão perpétua por crime de guerra na Ucrânia
Primeiro julgamento do tipo é visto como a chance da Ucrânia provar, sem sombra de dúvida, que soldados russos não estão respeitando as regras da guerra
Um tribunal na Ucrânia condenou nesta segunda-feira, 23, um soldado russo à prisão perpétua por matar um civil no primeiro julgamento por crimes de guerra desde o início da invasão.
O sargento Vadim Shishimarin, que aos 21 anos era comandante de tanque, foi condenado pelo assassinato de Oleksandr Shelipov, de 62 anos, na vila de Chupakhivka, no nordeste do país, em 28 de fevereiro. Ele admitiu ter atirado em Shelipov, mas disse que estava agindo de acordo com as ordens que recebeu e pediu perdão à sua viúva.
Vários outros supostos crimes de guerra estão sendo investigados pela Ucrânia. Enquanto Moscou nega que seus soldados tenham atacado civis durante a invasão, a Ucrânia diz que mais de 11.000 crimes podem ter ocorrido.
Este julgamento na capital ucraniana, Kiev, é visto como a chance da Ucrânia de provar, sem sombra de dúvida, que um soldado russo matou um civil sem respeitar as regras da guerra.
Moscou disse mais cedo nesta segunda-feira que estava preocupada com o destino do soldado e que estudaria opções para defendê-lo. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou, no entanto, que a Rússia “não tem capacidade de proteger seus interesses pessoalmente”. A embaixada da Rússia em Kiev está atualmente fechada.
Shishimarin assistiu aos procedimentos de dentro de uma caixa de vidro reforçada na sala do tribunal e, segundo jornalistas no local, não demonstrou nenhuma emoção quando o veredicto foi lido.
No momento do assassinato, ele e outros soldados estavam viajando em um carro que eles roubaram depois que seu comboio foi atacado e eles se separaram de sua unidade.
Quando viram Shelipov, ele estava falando ao telefone, disse Shishimarin ao tribunal. O soldado alegou que recebeu ordens para atirar nele com um rifle.
Seu advogado de defesa disse ao tribunal na sexta-feira 20 que Shishimarin só atirou depois de se recusar duas vezes a cumprir a ordem de atirar e que só um em cada três a quatro tiros atingiu o alvo. Segundo ele, o soldado disparou por medo de sua própria segurança e especulou que não tinha a intenção de matar.
Em um momento dramático durante o julgamento, a viúva da vítima, Kateryna Shelipova, confrontou Shishimarin.
“Diga-me, por favor, por que vocês [russos] vieram aqui? Para nos proteger?” ela perguntou, citando a justificativa do presidente russo Vladimir Putin para a invasão da Ucrânia.
“Proteger-nos de quem? Você me protegeu de meu marido, a quem você matou?”
O soldado não tinha resposta para isso. Pedindo desculpas à viúva, disse: “Mas eu entendo que você não será capaz de me perdoar.”