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Sob pressão, Lukashenko toma posse em cerimônia secreta em Belarus

No poder desde 1994, fazendo com que seja conhecido como 'o último ditador da Europa', presidente afirma que manifestantes são criminosos e desempregados

Por Da Redação Atualizado em 23 set 2020, 12h14 - Publicado em 23 set 2020, 11h39

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que enfrenta um grande movimento de protesto nas ruas desde sua reeleição em agosto, prestou juramento nesta quarta-feira, 23, para dar início ao seu sexto mandato, em uma cerimônia mantida em sigilo.

Durante a manhã, veículos de comunicação independentes e plataformas da oposição já haviam mencionado a possibilidade do evento formal, depois que o cortejo presidencial foi observado percorrendo a cidade em alta velocidade. A principal avenida de Minsk foi fechada ao público e um grande dispositivo policial foi mobilizado ao redor da sede presidencial.

A confirmação, no entanto, foi feita pela agência estatal de notícias Belta, seguida pelo site da Presidência.

“Alexander Lukashenko prestou juramento no idioma bielorrusso, depois assinou o documento e a presidente da Comissão Eleitoral entregou o certificado de presidente da República de Belarus”, anunciou a agência.

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De acordo com a Belta, Lukashenko expressou “orgulho” no discurso de posse.

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“Não escolhemos apenas um presidente, defendemos nossos valores, a vida em paz, a soberania e a independência”, disse o presidente. Ele também afirmou que o país resistiu a uma “revolução colorida”, nome atribuído na antiga república soviética aos movimentos populares que expulsaram do poder regimes autoritários desde o início dos anos 2000 na Ucrânia, Geórgia e Quirguistão. Para a Rússia e Lukashenko, as revoltas foram apoiadas pelo Ocidente.

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“Nosso Estado enfrentava um desafio sem precedentes, mas estamos entre os únicos, se não somos os únicos, onde a ‘revolução colorida’ não funcionou. Esta é a decisão dos bielorrussos, que não queriam a perdição de seu país”, completou.

Para os opositores e a imprensa independente, a cerimônia, que deveria acontecer até 9 de outubro, foi organizada em sigilo para não virar um novo catalisador de uma grande manifestação. Mais de 440 pessoas foram presas no domingo 20 em manifestações em todo o país. Apenas na capital, Minsk, cerca de 50.000 pessoas foram às ruas

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Desde as eleições presidenciais em 9 de agosto, que reelegeram o presidente com supostamente 80% – o que gerou acusações de fraude – marchas contra Lukashenko ocorrem todos os domingos. A polícia é acusada de truculência e perseguição, sendo que o uso de agentes sem uniformes para prender manifestantes se tornou prática do governo. ONGs de direitos humanos acusam o governo de uso excessivo de força e de torturas.

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Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, durante cerimônia de posse em Minsk. 23/09/2020 (Belta/AFP)

Lukashenko, por sua vez, cita um plano apoiado por potências estrangeiras para desestabilizar a Bielorrússia. No poder desde 1994, fazendo com que seja conhecido como “o último ditador da Europa”, ele afirma que os manifestantes são criminosos e desempregados.

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O ministro das Relações Exteriores da Lituânia, país que abriga opositores bielorrussos e que Lukashenko acusa de conspiração, ironizou a cerimônia. Entre os opositores está Svetlana Tikhanovskaya, candidata que enfrentou o presidente nas urnas e que afirma que o resultado é fraudulento. 

“Que farsa! Eleições fraudulentas, posse fraudulenta”, tuitou o ministro lituano Linas Linkevicius.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, reiterou que o país não reconhece Lukashenko “por falta de legitimidade democrática”, já que “não foram cumpridas as exigências mínimas para as eleições democráticas”. 

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Apesar de disposto a compartilhar o poder com outras lideranças políticas, para o presidente, novas eleições não vão ocorrer “até que me matem”. Segundo a agência estatal de notícias Belta, Lukashenko anunciou em meados de agosto que poderia entregar o poder após um referendo sobre possíveis mudanças na Constituição. Segundo ele, as mudanças já estão em andamento, mas não aconteceram sob pressão.

Em 2001, na primeira reeleição de Lukashenko, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), entidade internacional que fiscaliza eleições no continente europeu. denunciou “falhas fundamentais” no processo eleitoral, entre elas censura da mídia. A Bielorrússia ocupa a 153ª posição, entre 180 países, no ranking de liberdade de imprensa feito pela organização Repórteres sem Fronteiras.

Casos de intimidação a opositores e de bloqueios arbitrários de candidaturas já aconteciam em 2001, segundo a OSCE.  Nas últimas eleições parlamentares, em 2019, fiscais da OSCE relataram urnas fraudadas e, em alguns casos, foram explicitamente impedidos de checá-las. Na ocasião, todos os 110 assentos da câmara baixa do Parlamento foram conquistados por apoiadores de Lukashenko.

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