Sob críticas da UE, Orbán visita Putin para negociar paz na Ucrânia
Viagem ocorre dias após reunião do premiê húngaro com presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky; Líderes da UE dizem que Orbán 'não está representando' bloco
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, visitou o Kremlin nesta sexta-feira, 5, para uma reunião com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que teria como objetivo negociar o fim da guerra na Ucrânia. É a primeiro encontro da dupla desde abril de 2022, um mês após a invasão russa ao país vizinho.
A iniciativa de Orbán, definida por ele como uma “missão de paz”, foi vista com maus olhos por líderes da União Europeia (UE), que a interpretaram como uma tentativa de “apaziguamento” que beneficiaria Putin.
Ao justificar o motivo da viagem, o premiê afirmou que o término das hostilidades não será alcançado “de uma poltrona confortável em Bruxelas” e defendeu que os países não podem “ficar sentados esperando que a guerra termine milagrosamente”. Ele também destacou preocupações do reflexo da guerra “na destruição do nosso desenvolvimento econômico e no declínio da nossa competitividade”, acrescentando que frisou ao líder russo que “a Europa precisa de paz”.
A repórteres, Putin disse que “sempre” esteve disposto a “discutir um acordo político e diplomático”, e acusou a Ucrânia de demonstrar “relutância em resolver problemas dessa maneira específica”. O chefe do Kremlin, além disso, elogiou as tratativas de Orbán, considerado pró-Rússia, e afirmou: “a implementação deles [da Hungria], nos parece, tornaria possível interromper as hostilidades e iniciar as negociações”.
Ainda nesta terça-feira, 2, Orbán fez uma visita surpresa ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Foi primeira viagem do líder europeu à capital da Ucrânia. A aterrisagem inédita ocorreu um dia depois da Hungria assumir a presidência rotativa do bloco até ao final do ano, para consternação de muitos outros políticos europeus. Os frequentes confrontos do país com Bruxelas sobre questões internas de Estado de direito e política externa tornaram o premiê húngaro uma dor de cabeça para os 27 Estados-membros.
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Reação da UE
No X, antigo Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mandou uma mensagem direta ao premiê: “apaziguamento não vai parar Putin”, escreveu. Ela disse, ainda, que “somente unidade e determinação pavimentarão o caminho para uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia”.
Segundo Josep Borrell, chefe da política externa do bloco europeu, o premiê “não está representando a UE de forma alguma”, mencionando o pedido de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Putin por crimes de guerra.
Kiev, por sua vez, condenou o encontro e destacou que “o princípio de ‘nenhum acordo sobre a Ucrânia sem a Ucrânia’ permanece inabalável e pedimos a todos os Estados que o observem rigorosamente”, em referência a ausência de um mandato da UE a Orbán que o desse permissão para, de fato, negociar a paz na Ucrânia.
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Demandas para paz
Para chegar ao fim do conflito, chamado pela Rússia de “operação militar especial”, Putin demanda que a Ucrânia desista da adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental, por considerá-la uma ameaça a sua segurança nacional. O presidente também insta Kiev a concordar em entregar as quatro províncias já anexadas ilegalmente ao mapa russo, sem reconhecimento da comunidade internacional: Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk, que representam, juntas, 15% do território ucraniano.
A Ucrânia rejeita as exigências e enxerga seu plano de paz de dez pontos como o único caminho realista. A proposta, apresentada há quase dois anos pelo presidente Volodymyr Zelensky durante discurso no G20, grupo das maiores economias do mundo, incluem passos para a segurança nuclear, segurança alimentar, um tribunal especial para crimes de guerra russos e um tratado final de paz com Moscou.