Shinzo Abe: O que se sabe até agora sobre assassinato do ex-premiê japonês
O ex-líder morreu de hemorragia e a bala que o matou penetrou fundo o suficiente para atingir seu coração
O ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, morreu nesta sexta-feira, 8, após ser baleado durante um discurso na cidade de Nara, no oeste do país.
Abe foi baleado por volta das 11h30, hora local, enquanto fazia um discurso de campanha eleitoral na rua. Ele foi levado ao hospital primeiro de ambulância, depois de helicóptero médico. Abe parecia estar em estado de parada cardíaca quando foi levado de helicóptero para o hospital após o tiroteio. Os serviços de emergência disseram que ele foi ferido no lado direito do pescoço e na clavícula esquerda.
O ex-premiê japonês chegou ao hospital em estado de parada cardíaca às 12h20, horário local, segundo médicos da Nara Medical University. Em uma entrevista coletiva várias horas após o tiroteio, o emocionado primeiro-ministro Fumio Kishida confirmou que Abe estava em estado crítico, passando por tratamento de emergência. O irmão de Abe, também ministro da Defesa do país, disse que estava recebendo uma transfusão de sangue.
Depois, ele foi declarado morto às 17h03, hora local, de acordo com o chefe da Universidade Médica de Nara. Em uma entrevista coletiva no hospital, os médicos disseram que o ex-líder morreu de hemorragia e a bala que o matou penetrou fundo o suficiente para atingir seu coração.
A polícia prendeu um homem de 42 anos no local. Ele foi identificado como Tetsuya Yamagami, de Nara. Ele é um ex-membro da força de autodefesa marítima, de acordo com a emissora japonesa Fuji TV, e teria deixado a força em 2005. A NHK informou que o homem não tentou fugir e está sendo interrogado na delegacia de Nara Nishi.
A mídia local afirmou que a arma que se acredita ter sido usada no ataque era caseira, segundo a polícia. As restrições de posse de armas do Japão não permitem que civis tenham revólveres, e caçadores licenciados podem possuir apenas rifles. Vídeos do incidente mostram seguranças lutando com ele no chão perto de onde Abe estava, momentos após os tiros serem ouvidos.
Video shows the moment former Japanese PM Shinzo Abe was shot from behind as he campaigned in the city of Nara. Abe was rushed to the hospital in critical condition.
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— Al Jazeera English (@AJEnglish) July 8, 2022
Abe, o primeiro-ministro mais longevo do Japão, estava em Nara fazendo um discurso de campanha antes das eleições para a câmara alta deste domingo quando foi baleado. Todas as partes suspenderam a campanha após o tiroteio.
Os políticos japoneses reagiram com extremo choque ao tiroteio. “Não importa o motivo, um ato tão hediondo é absolutamente imperdoável. É uma afronta à democracia”, disse a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, em uma coletiva de imprensa antes do anúncio da morte de Abe.
O premiê Kishida voltou às pressas a Tóquio de eventos de campanha em todo o país. Ele chamou o ataque de “covarde e bárbaro”.
Ataques a políticos no Japão são incomuns. Houve apenas alguns no último meio século, mais notavelmente em 2007, quando o prefeito de Nagasaki foi baleado e morto por um gângster – um incidente que resultou em um endurecimento ainda maior das regulamentações sobre armas.
A última vez que um primeiro-ministro foi morto foi em 1936, durante o militarismo radical do Japão antes da guerra.
O Japão tem tolerância quase zero em relação à posse de armas e uma das taxas mais baixas de violência armada do mundo, tornando o ataque a Shinzo Abe particularmente fora da curva. Uma lei do pós-guerra de 1958 sobre a posse de armas declara: “Ninguém deve possuir uma arma de fogo, ou armas de fogo, ou uma espada, ou espadas”.
Entre as poucas exceções estão as espingardas para caça e esporte. Mesmo assim, os futuros proprietários devem fazer um curso e passar em provas teóricas e práticas. Depois, é feita uma avaliação psicológica para determinar a aptidão a possuir uma arma de fogo. As verificações de antecedentes policiais são exaustivas e até envolvem interrogar os parentes dos proprietários das armas.
A posse de armas de fogo por civis é proibida. Os poucos ataques com armas relatados na mídia geralmente envolvem membros das gangues yakuza do país. Segundo a polícia, houve 21 prisões por uso de armas de fogo em 2020, sendo 12 delas relacionadas a gangues, de acordo com o Nikkei Asia.
Um relatório de 2022 da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, revelou que, enquanto os americanos tiveram mais de quatro homicídios por arma de fogo a cada 100.000 pessoas em 2019, o Japão teve quase zero. Comparando os países de alta renda do Banco Mundial com a taxa de homicídio por arma de fogo por 100.000 pessoas, os Estados Unidos tiveram 4,2, a Austrália teve 0,18 e o Japão 0,02, segundo o relatório.