Sessenta anos depois, Alemanha fecha últimas usinas nucleares do país
Ao todo, esse tipo de energia só representou 5% da produção na Alemanha nos três primeiros meses do ano
A Alemanha vai desligar suas últimas três usinas nucleares, encerrando um programa de seis décadas que gerou um dos movimentos de protesto mais fortes da Europa, mas teve um breve adiamento devido à guerra na Ucrânia. As usinas vão ser fechadas para sempre à meia-noite do próximo sábado, 15, à medida que Berlim segue um plano de geração de eletricidade totalmente renovável até 2035.
Depois do desastre de Fukushima, no Japão, em 2011, que enviou radiação para o ar e aterrorizou a comunidade internacional, os alemães prometeram abandonar a energia nuclear. Porém, o encerramento final foi adiado do verão de 2022 para este ano por conta da invasão da Rússia à Ucrânia, que obrigou a Alemanha a interromper as importações russas de combustíveis fósseis.
Nesse contexto, os preços dispararam e houve temores de escassez de energia em todo o mundo, mas agora a Alemanha está novamente confiante no fornecimento de gás e na expansão das energias renováveis no país. De acordo com o Ministério da Economia da Alemanha, as últimas três usinas contribuíram com apenas cerca de 5% da produção de eletricidade no país nos três primeiros meses do ano e, segundo o escritório federal de estatísticas, elas representaram apenas 6% da produção de energia em 2022, em comparação com 44% das renováveis.
Entretanto, uma pesquisa do instituto Forsa mostra que dois terços dos alemães são a favor de prolongar a vida útil dos reatores ou conectar usinas antigas de volta à rede. Apenas 28% apoiam a eliminação gradual, segundo o estudo.
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“Acho que isso certamente é alimentado em grande parte pelo medo de que a situação do abastecimento simplesmente não seja segura”, disse Peter Matuschek, analista da Forsa, à Reuters.
A decisão também foi criticada por políticos conservadores, que acreditam que a medida tenha interesses políticos envolvidos. Arnold Vaatz, ex-parlamentar do partido da ex-chanceler Angela Merkel, disse que a decisão também visa influenciar uma eleição estadual em Baden Wuerttemberg, onde a questão está favorecendo os Verdes.
“Eu chamei isso de a maior estupidez econômica do partido desde 1949 e mantenho minha posição”, disse Vaatz à Reuters.
O governo afirma que o fornecimento está garantido após a eliminação da energia nuclear e que a Alemanha vai continuar exportando eletricidade, citando altos níveis de armazenamento de gás, novos terminais de gás liquefeito na costa norte e expansão de energias renováveis. No entanto, os defensores da energia nuclear dizem que eventualmente o país vai ter que voltar para esse tipo de energia se quiser eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
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“Ao eliminar gradualmente a energia nuclear, a Alemanha está se comprometendo com o carvão e o gás porque nem sempre há vento suficiente soprando ou sol brilhando”, disse Rainer Klute, chefe da associação pró-nuclear sem fins lucrativos Nuklearia.
Além disso, com o fim da energia nuclear, a Alemanha precisa encontrar um depósito permanente para cerca de 1.900 barris altamente radioativos de lixo nuclear até 2031.
“Ainda temos pelo menos mais 60 anos pela frente, dos quais precisaremos para o desmantelamento e armazenamento seguro a longo prazo dos restos”, disse Wolfram Koenig, chefe do Escritório Federal para a Segurança do Gerenciamento de Resíduos Nucleares.
A Alemanha também se preocupa com a política energética dos vizinhos. O governo reconhece que, mesmo com a eliminação desse tipo de energia no país, as questões de segurança permanecem, já que França e Suíça ainda dependem fortemente da energia nuclear.
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“A radioatividade não para nas fronteiras”, disse Inge Paulini, chefe do Escritório de Proteção de Radiação da Alemanha, observando que sete usinas em países vizinhos ficavam a menos de 100 km da Alemanha.
O setor nuclear comercial da Alemanha começou com o comissionamento do reator Kahl, em 1961. Ao todos, sete usinas comerciais aderiram à rede nos primeiros anos, com a crise do petróleo da década de 1970 ajudando a aceitação do público, mas a sua expansão foi interrompida para evitar danos ao setor do carvão.
Na década de 1990, mais de um terço da eletricidade na Alemanha recém-reunificada vinha de 17 reatores nucleares. Nos anos 2000, um governo de coalizão incluindo os Verdes, que surgiram do movimento antinuclear dos anos 1970, introduziu uma lei que levaria à eliminação gradual de todos os reatores por volta de 2021. Ao longo do tempo, os governos conservadores de Merkel tiveram um relação “vai e vem” com a medida, que só passou a ser amplamente aceita depois do desastre de Fukushima.