Sem primeiro-ministro há dois meses, Itália tenta formar coalizão
Nenhum partido obteve maioria na eleição e presidente ameaça convocar novo pleito; duas maiores legendas atrasam aliança sob a sombra de Berlusconi
O Movimento 5 Estrelas, populista, e a Liga de extrema-direita da Itália se mobilizaram nesta quarta-feira para finalmente formar um governo, nove semanas após as eleições inconclusivas de 4 de março.
Dentre os empecilhos para que a coalizão seja formada, o principal é a sombra de Silvio Berlusconi, três vezes primeiro-ministro da Itália, que deixou o governo após escândalos políticos e sexuais, além da divisão de seu partido. O M5S quer se aliar à Liga, desde que o grupo rompa sua aliança com a Forza Italia, de Berlusconi.
À noite, a Forza Italia divulgou uma nota em que Berlusconi afirma não ver problema em o M5S formar uma aliança com seus aliados e sem seu partido. A nota avisa, porém, que a Forza votará contra as iniciativas do Executivo.
Sergio Mattarella, o presidente italiano, disse que adiará os planos de nomear um primeiro-ministro apartidário por 24 horas, depois que os dois partidos prometeram realizar reuniões às pressas para tentar formar a coalizão. Com isso, evitariam que fosse convocada uma nova eleição.
A eleição resultou em um Parlamento fragmentado, sem maioria. Com isso, os partidos precisam buscar afinidades para definir quem será o chefe de governo—e essa é a parte mais difícil.
Frustrado, Mattarella cogita nomear alguém de fora do mundo político para comandar um “governo neutro” e preparar o país para eleições antecipadas, possivelmente já em julho.
Por várias vezes, o 5 Estrelas propôs formar um governo com a Liga, desde que ela rompa a aliança com a Forza Italia, partido de Berlusconi. A Liga prefere manter a aliança de centro-direita, mas há pressão para que Berlusconi saia de cena voluntariamente.
Vendo o tempo passar, os líderes do 5 Estrelas e da Liga, os dois maiores do Parlamento, voltaram a se reunir inesperadamente para escolher um nome e indicaram que fizeram progresso, mas que ainda precisam de mais tempo.
“Estamos fazendo tudo que podemos”, disse o líder da Liga, Matteo Salvini. Parlamentares das duas siglas expressaram a esperança de que o esboço de um acordo esteja pronto até quinta-feira.
O 5 Estrelas – que se intitula um movimento, não partido político – vê Berlusconi, de 81 anos, condenado por evasão fiscal e em julgamento por supostamente subornar testemunhas, como um símbolo da corrupção política.
Renato Brunetta, parlamentar destacado do Forza Italia, disse que a aliança de centro-direita permanecerá intacta mesmo que o partido seja excluído do governo. Salvini confirmou, dizendo que, “aconteça o que acontecer, não romperemos a aliança”.
(Com Reuters)