Seis discursos que marcaram o legado de Obama
Em sua história política, o presidente americano proclamou mensagens contra o racismo, falou sobre a união entre as nações e até cantou
O presidente Barack Obama fez seu discurso final ao povo americano na última terça-feira e encerrou a série de pronunciamentos que marcaram seus oito anos à frente da Casa Branca.
Em seus dois períodos de quatro anos de governo, Obama encarou cada discurso como “uma forma de contar uma história”, explicou principal redator das mensagens do presidente, Cody Keenan. Professor de direito constitucional, Obama sempre participou ativamente na elaboração de seus discursos. “No geral, sentamos no Salão Oval e ele fala. Transcrevemos tudo e isso me dá material para trabalhar”, contou Keenan.
“Ao final de alguns dias, entrego o rascunho. Se ele não gosta, sempre pega um bloco de papel amarelo e começa a escrever suas próprias ideias. Se ele gosta, começamos a definir o texto”, explicou o redator. Normalmente, são necessários três ou quatro rascunhos para se chegar a um produto final, que poderá sofrer alterações de última hora.
Relembre os seis discursos mais memoráveis de Obama, de sua ascensão política até a Casa Branca:
Boston: o aparecimento no cenário político
27 de julho de 2004
“Não existe um Estados Unidos progressista e um conservador e, sim, um Estados Unidos. Não há um Estados Unidos negro, um branco, um hispânico e um asiático e, sim, um Estados Unidos”, afirmou Obama. Nessa ocasião, o jovem senador por Illinois, filho de um queniano e uma americana branca, era praticamente desconhecido e irrompeu com toda a força durante a Convenção do Partido Democrata, em 2004.
Segundo Keenan, foi “provavelmente seu discurso mais bem sucedido, no qual se apresentou ao país pela primeira vez”. “Tudo que fez foi contar a história do país, contar a própria história e unir as duas coisas”, avaliou.
Cairo: apelo ao mundo muçulmano
4 de junho de 2009
“Vim a Cairo em busca de um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos de todo o mundo, que esteja baseado no interesse e no respeito mútuos”, expressou na ocasião. Em uma mensagem aos mais de 1,5 bilhão de muçulmanos e que começou com o tradicional “Salam alaikum“, Obama pediu para que se colocasse fim ao “ciclo de suspeitas e discórdia” depois de anos de ingerência americana no Oriente Médio.
Oslo: guerra e paz
10 de dezembro de 2009
Menos de um ano depois de assumir a Casa Branca, Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz com um discurso em que abordou o uso da força. “Dizer que às vezes a força pode ser necessária não é cinismo: é um reconhecimento da história, da imperfeição humana e dos limites da razão”, afirmou.
Obama também admitiu “considerável controvérsia” oriunda de sua premiação, por ser comandante de um país militarizado e envolvido em guerras, mas pediu um voto de confiança. “Estou no início, e não no final, de minhas tarefas no cenário mundial”, declarou.
Selma: a marcha continua
7 de março de 2015
“Só precisamos abrir nossos olhos, nossos ouvidos e nossos corações para saber que a história racial de nossa nação ainda lança sua longa sombra sobre nós”, manifestou. Obama falou na ponte de Edmund Pettus, cinquenta anos depois da brutal repressão contra um protesto pacífico, e transmitiu a uma nova geração de americanos o espírito das lutas pelos direitos civis.
Acompanhado de sua esposa, Michelle, e suas filhas Malia e Sasha, Obama cruzou a pé a ponte sobre o rio Alabama.
Charleston: Amazing Grace
26 de junho de 2015
“Durante muito tempo, fomos cegos à forma com que as injustiças do passado continuam dando forma ao nosso presente”, afirmou. Obama falou durante uma cerimônia religiosa em memória de nove membros de uma igreja voltada à comunidade negra, mortos por um supremacista branco.
Em um de seus mais recordados discursos, Obama se referiu à interminável luta contra o racismo e o porte de armas, até que, depois de uma longa pausa, começou a cantar o hino religioso Amazing Grace. De acordo com Keenan, o discurso que foi preparado tinha a letra da canção. “Naquela manhã, estávamos já no helicóptero quando ele me disse: sabe de uma coisa? É possível que eu cante uma parte”. Eu olhei pela janela e pensei: “Claro que vai cantar”.
Havana: irmãos reunidos
22 de março de 2016
“Em muitos aspectos, Estados Unidos e Cuba são como dois irmãos que ficaram separados por muitos anos, mesmo compartilhando o mesmo sangue”, afirmou Obama no histórico discurso no Gran Teatro de Havana. Em um gesto elaborado para deixar para trás meio século de confrontos e desconfianças, Obama viajou a Cuba e pronunciou um discurso concebido como uma mensagem aos cubanos para iniciar um novo capítulo nas relações bilaterais.
O presidente cubano, Raúl Castro, acompanhou atentamente o discurso de um dos balcões do teatro e aplaudiu a calorosamente a mensagem de Obama.
(Com AFP)