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“Se Maduro não quer eleições, ele que saia do país”, diz Tintori

A esposa do líder opositor Leopoldo López está no Brasil e se reúne com o presidente Michel Temer

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 Maio 2017, 21h12 - Publicado em 11 Maio 2017, 12h51

Lilian Tintori é casada com Leopoldo López, um dos muitos presos políticos da Venezuela. Seu marido foi detido em 2014 e sentenciado a quase 14 anos de prisão sem qualquer prova contra ele. Mãe de duas crianças pequenas, ela viaja o mundo pedindo ajuda internacional para libertar seu país do regime autoritário de Nicolás Maduro. No Brasil, a ativista se encontrou hoje pela primeira vez com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto e transmitiu mais uma vez seu apelo ao governo brasileiro.

Temer afirmou apoio à democracia e aos direitos humanos e disse que “o Brasil está ao lado do povo venezuelano”. O presidente corroborou o fim das prisões políticas na Venezuela e afirmou que é preciso garantir as liberdades individuais e a independência dos Poderes, e acabar com repressão por parte do Estado venezuelano. 

Antes do encontro, Lilian conversou com VEJA por telefone e contou sobre o desespero de ter passado mais de um mês sem receber nenhuma informação do marido e defendeu mais uma vez os protestos que tomam conta das ruas da Venezuela há 41 dias, com um saldo de 39 mortos.

Qual é o argumento usado pelos militares para que a senhora não possa ver o Leopoldo regularmente? Nenhum. Somos castigados sem razão. Eles não querem que Leopoldo saiba que os venezuelanos estão saindo nas ruas todos os dias em protesto e que estamos lutando pelo seu chamado de resgate da democracia e da liberdade. Não querem que saiba que estamos lutando contra Nicolás Maduro. Ficamos 35 dias sem vê-lo, sem falar com ele, sem saber de nada.

Como você e sua família conseguiram convencer o governo a deixá-los ver Leopoldo? Conseguimos vê-lo no último domingo depois de muita pressão internacional. Queríamos uma prova de vida, porque circulavam rumores de que haviam batido nele e que ele estava sem sinais vitais no hospital. Mas depois de muita pressão e protestos nas ruas nos deixaram entrar e pudemos comprovar que ele estava bem. Mas, novamente, desde domingo voltaram a isolá-lo e ninguém o vê. Não deixam nem os advogados entrarem.

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Como ele tem sido tratado? Como é a cela onde é mantido? Ele é torturado diariamente. Está em uma cela sem luz, sozinho em uma torre de quatro andares dentro de uma prisão militar. Não deixam ele falar com ninguém, ver ninguém, não deixam que ligue para sua própria casa nem para falar com os filhos. Criaram uma prisão dentro de outra prisão. Quando conto ao mundo sobre o que acontece com Leopoldo, as pessoas ficam muito impressionadas, não acreditam que seja verdade. Mas é verdade e é um tratamento cruel.

De quem são as ordens para torturar e isolar Leopoldo? São quatro carcereiros que recebem ordens diretas de Diosdado Cabello, ex-presidente do Parlamento e principal aliado de Maduro. Foi ele quem prendeu Leopoldo e é ele quem ordena que o torturem. Ele é um homem cheio de ódio e rancor, que insulta as pessoas e ri dos mortos e dos feridos nos protestos. Ele representa o terrorismo de Estado.

Como são as visitas conjugais? Quando estamos juntos em nossa intimidade eles nos gravam e logo tudo que dizemos e fazemos passa no canal de televisão do governo. Eles estão difamando a nossa família. Cada vez que entro ou saio da prisão me desnudam completamente. E não sou só eu, a da mãe do Leopoldo de 72 anos também tem que passar por isso.

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Qual a saída mais provável para a crise atual da Venezuela, na sua opinião? Sair às ruas. Hoje completam 41 dias que estamos protestando todos os dias. Protestamos por nossos direitos, por nossa liberdade, pelo resgate da democracia. E isso não vai parar. Nós vamos seguir nas ruas até que Maduro saia do poder. Ele tem hoje a oportunidade de fazer eleições gerais para que haja uma transição democrática, constitucional e de paz, como todos queremos. Mas se ele não quer eleições, então ele que saía do país, porque nós venezuelanos não vamos mais aceitar a ditadura.

Como convencer os venezuelanos a manterem-se nas ruas diante de tamanha repressão? Não temos que convencê-los, eles querem estar nas ruas. As pessoas que protestam são as pessoas que tem fome, que viram seus familiares serem mortos, que perderam familiares por falta de remédios. As pessoas estão nas ruas porque querem e nós temos que guiá-los e ajudá-los. Mas isso não vai parar tão cedo. As pessoas estão nas ruas porque querem liberdade e querem um país melhor.

No passado, opositores ficaram fora do processo eleitoral e terminaram completamente marginalizados. A senhora acredita que a oposição deveria participar da Constituinte de Maduro? Não. A Constituinte de Maduro é uma fraude, ele quer eliminar o voto popular livre e secreto para manter sua ditadura para sempre. A Constituição já existe, só temos que fazer com que seja cumprida. Maduro tem que cumprir a Constituição, não criar uma nova.

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O que você espera desta visita ao Brasil?  Espero um pronunciamento firme do governo. Espero que, como país irmão, se pronuncie de forma contundente, pois quando se trata de direitos humanos não existem fronteiras. Essa é a primeira vez que serei recebida no Palácio do Governo aqui no Brasil e quero usar esta reunião para contar ao presidente Michel Temer os detalhes do que vivem os venezuelanos em meu país, assim como fiz com outros líderes antes.

Como o Brasil deveria ajudar a solucionar a crise venezuelana? Somos parte de um sistema americano que deveria velar pelo que acontece na Venezuela. Os presidentes precisam colocar razão na cabeça de Maduro e dizer ‘basta, parem de matar as pessoas! ’. A comunidade internacional  deve garantir a realizações de eleições justas, pois também é responsável pelo que acontece em meu país.

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