Rússia se recusa a culpar Estado Islâmico por atentado em Moscou
Ataque de autoria reivindicada pelo grupo terrorista matou 137 pessoas em sala de concertos; sem evidências, Kremlin tenta responsabilizar Ucrânia
Após o Estado Islâmico (EI) reivindicar a autoria de um ataque terrorista em Moscou, que deixou 137 mortos na última sexta-feira 22, o Kremlin recusou-se, nesta segunda-feira, 25, a culpar o grupo pelo atentado. Os Estados Unidos também confirmaram que o EI seria responsável pelo incidente, mas o governo da Rússia sugeriu que a Ucrânia estaria por trás da violência.
Questionado por repórteres se o Kremlin reconhecia que o EI era culpado pelo ataque, o porta-voz da Rússia, Dmitri Peskov, respondeu apenas: “Essa é uma pergunta relacionada ao andamento da investigação. Não comentamos isso de forma alguma. Não temos o direito de fazer isso. Mas pedimos que confiem nas informações fornecidas por nossas agências de aplicação da lei.”
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Além disso, quando repórteres perguntaram por que o presidente russo, Vladimir Putin, não mencionou o EI como possível organizador do ataque, ele foi igualmente evasivo.
“A investigação continua. Nenhuma teoria sólida foi anunciada ainda. Esta é apenas uma questão de informação preliminar”, disse Peskov.
Acusações contra a Ucrânia
No sábado 23, Putin afirmou, sem provas, que a Ucrânia tinha ajudado os agressores a realizar o atentado e planejava permitir que eles escapassem para seu território através da fronteira com a Rússia.
“Eles tentaram se esconder e seguir em direção à Ucrânia, onde, de acordo com dados preliminares, uma janela foi aberta, do lado ucraniano, para eles cruzarem a fronteira do Estado”, disse Putin em um discurso televisionado.
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Os serviços de inteligência dos Estados Unidos haviam avisado, no mês passado, que células do EI na Rússia estavam conspirando para atingir locais com “grandes reuniões de pessoas”. No entanto, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, questionou as afirmações de Washington.
“Atenção – uma pergunta para a Casa Branca: você tem certeza de que é o Estado Islâmico? Você poderia pensar novamente sobre isso?”, disse Zakharova em um artigo para o jornal russo Komsomolskaya Pravda, acrescentando que os americanos estavam tentando pintar o Estado Islâmico como “bicho-papão” para cobrir suas “alas” em Kiev.
Macron acusa Kremlin de “cinismo”
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse nesta segunda-feira que todos os sinais indicam que o atentado de sexta-feira foi realizado pelo Estado Islâmico, afirmando que seria “cínico e contraproducente” usar o incidente para ampliar a narrativa do Kremlin de oposição à Ucrânia.
“Este ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico e as informações disponíveis para nós, para os nossos serviços (de inteligência), bem como para os nossos principais parceiros, indicam de fato que foi uma entidade do Estado Islâmico que instigou este ataque. Penso que seria cínico e contraproducente para a própria Rússia e para a segurança dos seus cidadãos usar este contexto para tentar voltar-se contra a Ucrânia”, declarou em discurso.
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Kiev negou qualquer envolvimento no ataque.
Suspeitos presos
No domingo 24, quatro suspeitos, acusados do ataque terrorista à sala de concertos Crocus City Hall, compareceram a um tribunal de Moscou. Os homens foram oficialmente identificados como cidadãos do Tajiquistão, segundo a agência de notícias estatal russa Tass, e foram detidos por dois meses para investigações.
Putin e o presidente do Tajiquistão, Emomali Rahmon, conversaram por telefone no domingo. De acordo com a Tass, “os serviços de segurança e as agências relevantes da Rússia e do Tajiquistão estão trabalhando em estreita colaboração no combate ao terrorismo, e este trabalho será intensificado”.
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Identificados como Saidakrami Murodali Rachabalizoda, Dalerdzhon Barotovich Mirzoyev, Shamsidin Fariduni e Muhammadsobir Fayzov, os suspeitos enfrentam acusações de “ataque terrorista cometido por um grupo de indivíduos que resultou na morte de uma pessoa”. Todos os quatro se declararam culpados.
Eles foram detidos na região de Bryansk, no sul da Rússia, onde o Kremlin disse que autoridades interceptaram seu veículo enquanto fugiam para uma floresta próxima. Vídeos dos interrogatórios sugerem que os serviços de segurança russos torturaram os quatro, que compareceram ao tribunal com rostos desfigurados.