Rússia hackeou sistema de telecomunicação ucraniano por meses, diz Kiev
Infiltração teria interrompido serviços prestados pela gigante Kyivstar a 24 milhões de usuários do país por uma semana em dezembro
O chefe de espionagem da Ucrânia, Illia Vitiuk, afirmou nesta quinta-feira, 4, que hackers russos se infiltraram por meses nos sistemas da gigante de telecomunicações ucraniana Kyivstar – desde maio do ano passado. A violação teria sido responsável pela interrupção dos serviços prestados pela empresa a 24 milhões de usuários do país de 12 a 19 de dezembro, segundo a agência de notícias Reuters.
“Este ataque é uma grande mensagem, um grande aviso, não só para a Ucrânia, mas para todo o mundo ocidental compreender que ninguém é realmente intocável”, advertiu Vitiuk, acrescentando que a operadora investia, em peso, em segurança cibernética.
O chefe de espionagem alegou que o grupo russo apagou “quase tudo” sob domínio da empresa, no primeiro ataque da história do país a destruir “completamente o núcleo de uma operadora de telecomunicações”. Embora só haja evidências da invasão a partir de maio passado, Vitiuk acredita que os criminosos tenham tentado tomar controle da Kyivstar antes de março de 2023.
Segundo ele, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) avaliou que os hackers teriam sido capazes de roubar informações pessoais, localizar telefones, interceptar mensagens SMS e talvez se infiltrar em contas do Telegram. Vitiuk disse que a inteligência ucraniana ajudou a Kyivstar a restaurar seus sistemas em poucos dias e a repelir novos ataques cibernéticos.
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Preocupações de ameaças
A Kyivstar é a maior operadora de telecomunicações do país, sendo a única a prestar serviços a 1,1 milhão de ucranianos. Em meio à ameaça russa, o medo tomou conta da clientela, gerando grandes filas para a troca de cartões SIM de celulares. Além de acessar dados privados dos usuários, o grupo também bloqueou caixas eletrônicos conectados à internet fornecida pela empresa e impediu o funcionamento de sirenes de ataques aéreos em alguma regiões.
Apesar do receio geral, Vitiuk garantiu à Reuters que as Forças Armadas da Ucrânia, em guerra com a Rússia desde fevereiro de 2022, não foram afetadas pelo ataque, já que trabalham com “algoritmos e protocolos diferentes”.
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Histórico de invasões
A massiva destruição da infraestrutura cibernética da Kyivstar dificultou o avanço das investigações, mas o chefe de espionagem disse ter “quase certeza” de que a invasão foi obra da Sandworm, unidade de guerra cibernética da inteligência militar da Rússia associada a outros ataques a sistemas ucranianos. Ele supõe que a equipe Solntsepyok, que assumiu autoria do crime, é afiliada à unidade.
Vitiuk revelou ainda que a Sandworm também invadiu uma segunda operadora local, sem dar mais detalhes. A intrusão, no entanto, foi contida imediatamente pelos agentes do SBU, que estavam dentro dos sistemas russos.
Até o momento, o SBU frustrou mais de 4.500 ataques à infraestruturas e órgãos governamentais ucranianos nos últimos doze meses.