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Rússia anuncia primeiro cessar-fogo sem motivação humanitária

Medida era exigência de Kiev para que negociações seguissem adiante; em troca, Moscou pedia aplicação de estatuto de neutralidade à nação ucraniana

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 mar 2022, 14h39 - Publicado em 29 mar 2022, 10h34

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta terça-feira, 29, o primeiro cessar-fogo sem motivação humanitária desde o começo da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro. Segundo a pasta, haverá uma “redução drástica nas atividades militares em torno de Kiev e Tchernihiv.

O anúncio se dá à medida que negociações com a Ucrânia entram em um “estágio prático”, afirmou o vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, a repórteres, ressaltando que a redução irá aumentar a confiança mútua entre os países e levar às condições necessárias para maiores “negociações para preparação de um acordo de neutralidade e status não nuclear da Ucrânia”.

Nesta terça-feira, em Istambul, representantes russos e ucranianos se encontraram para mais uma rodada de conversas de paz. Negociadores ucranianos propuseram a neutralidade militar, um dos objetivos centrais da Rússia no conflito, em troca de garantias externas de segurança. Kiev também aceitou discutir em 15 anos a situação da Crimeia, região anexada por Moscou em 2014.

As garantias, ainda pouco esclarecidas, mas que envolveriam assinatura de dez países, seriam algo análogo à que membros da Otan, principal aliança militar, dão uns aos outros, segundo Mikhaylo Podolyak, assessor presidencial ucraniano e representante nas conversas.

“Queremos um mecanismo internacional que funcione, similar ao artigo 5 da Otan”, ressaltou o chefe da missão ucraniana, David Arahamiya, pouco depois do fim do encontro. “Gostaríamos que os países garantidores fossem os do Conselho de Segurança das Nações Unidas (Reino Unido, China, Rússia, Estados Unidos e França), assim como Turquia, Alemanha, Canadá, Polônia e Israel”. 

No caso de um ataque ou agressão contra a Ucrânia, o governo do país poderia exigir consultas em três dias e, se a questão não fosse resolvida pela via diplomática, teria direito à assistência militar, incluindo a declaração de uma zona de exclusão aérea. Com estas garantias, “a Ucrânia aceitará ser neutra, não terá armas nucleares, nem permitirá bases militares estrangeiras em seu território”, indicou outro membro da delegação do país, Oleksander Chalyi.

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O cessar-fogo era uma exigência de Kiev para que negociações seguissem adiante. A condição de Vladimir Putin para o cessar-fogo seria a aplicação do estatuto de neutralidade à nação ucraniana.

As exigências de Moscou para encerrar a invasão ao país vizinho, que teve início em 24 de fevereiro, foram explicitadas recentemente quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militaresna Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo.

Moscou chama sua incursão de “operação militar especial” para desarmar a Ucrânia e desalojar líderes que chama de “neonazistas”. Kiev e seus aliados ocidentais dizem que se trata de um pretexto para uma guerra não provocada contra um país democrático de 44 milhões de pessoas.

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O acordo proposto por Putin envolveria Zelensky rejeitando a Otan e prometendo não hospedar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados como Estados Unidos, Reino Unido e Turquia.

Em entrevista por vídeo a jornalistas independentes russos, Zelensky reconheceu no último domingo, 27, que seu país está pronto para aceitar um status neutro como parte de um acordo de paz com a Rússia.

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“Garantias de segurança e o status neutro e não nuclear de nosso estado. Estamos prontos para aceitar isso. Este é o ponto mais importante”, afirmou Zelensky, que acredita que este tema é o principal motivo da invasão russa, que já dura mais de um mês. “Este foi o primeiro ponto-chave para a Federação Russa, se bem me lembro. E pelo que me lembro, eles começaram a guerra por causa disso”.

Antes da reunião desta terça-feira em Istambul, as partes se reuniram de forma presencial em três ocasiões — 28 de fevereiro, 3 de março e 7 de março —, em Belarus. No último dia 10, em Antalya, também na Turquia, houve encontro entre os ministros das Relações Exteriores russo e ucraniano.

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