Rússia ameaça fabricar mísseis proibidos se EUA deixarem tratado nuclear
Casa Branca e Otan acusam Moscou de violar pacto assinado durante a Guerra Fria; Trump contra-ameaça com retirada de seu país do acordo
O presidente russo Vladimir Putin garantiu nesta quarta-feira, 5, que se os Estados Unidos desenvolverem mísseis de médio e curto alcances, a Rússia também vai fazê-lo. As ameaças foram feitas depois que Washington anunciou sua decisão de deixar o primeiro tratado de desarmamento nuclear da Guerra Fria, o INF, assinado em 1987.
“Agora se vê que nossos parceiros americanos consideram que a situação mudou tanto que os Estados Unidos também devem dispor dessas armas. Qual será a nossa resposta? Simples: nós também vamos fazê-las”, disse Putin à imprensa local.
Na terça-feira 4, os Estados Unidos acusaram mais uma vez a Rússia de violar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) e deram um ultimato de sessenta dias para Moscou se pronunciar a respeito.
O chefe da diplomacia de Washington, Mike Pompeo, afirmou que, se nada mudar por parte de Moscou, o governo americano será forçado a iniciar um processo de seis meses de retirada do mesmo tratado.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, fez um apelo nesta quarta-feira para que Rússia e Estados Unidos preservem o pacto.
Segundo Putin, contudo, os americanos não apresentaram nenhuma prova de que a Rússia está violando o pacto. Para o presidente russo, os Estados Unidos já tinham intenções de deixar o acordo e estão usando o suposto desrespeito de Moscou às cláusulas como desculpa.
“Ou seja, a decisão foi adotada há muito tempo, só que por baixo dos panos. Eles pensavam que nós não perceberíamos, mas no orçamento do Pentágono já figura o desenvolvimento dessas armas. No entanto, apenas depois disso eles anunciaram publicamente que sairiam (do tratado)”, disse.
O presidente russo admitiu que “é verdade” que “muitos países, seguramente uma dezena, já desenvolvem essas armas, enquanto a Rússia e os Estados Unidos se limitam bilateralmente”, mas garantiu que Washington vinha atribuindo recursos havia algum tempo para desenvolver esse tipo de armamento e que agora simplesmente procura uma desculpa para sair do tratado.
O tratado
O INF foi assinado em 1987 entre os então presidente americano Ronald Reagan e o líder da União Soviética Mikhail Gorbachev. O pacto prevê a eliminação dos mísseis balísticos e de cruzeiro, nucleares ou convencionais, cujo alcance estivesse entre 500 e 5.500 quilõmetros.
O acordo encerrou a crise provocada nos anos 1980 pelo deslocamento dos mísseis SS-20 soviéticos com ogivas nucleares na Europa Oriental e dos mísseis americanos Pershing na Europa Ocidental.
Violação
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) acusou nesta terça-feira formalmente a Rússia de violar o tratado. Em declaração conjunta, os países aliados reconheceram que Moscou desenvolveu e ativou o míssil de cruzeiro Novator 9M729. O texto ressalta que essa iniciativa “viola o tratado INF e representa um risco significativo para a segurança euro-atlântica”.
Os Estados Unidos já vinham acusando Moscou de violação há tempos. O presidente americano, Donald Trump, advertiu em outubro que seu país se retiraria do tratado e aumentaria seu arsenal nuclear “até que as pessoas recuperem o juízo”.
Os russos, por sua vez, argumentam que o míssil 9M729 tem um alcance de 498 quilômetros, dois a menos que o limite para que seja considerado uma violação.
Corrida armamentista
Putin não pôde tratar desse assunto no sábado durante a reunião de cúpula do G20, em Buenos Aires, com o presidente Donald Trump. O encontro entre ambos foi cancelado pelo americano nas vésperas. Mas ele advertiu que a saída dos americanos do INF provocará uma nova corrida armamentista no mundo.
Além disso, Putin ameaçou apontar o arsenal estratégico russo para os países europeus que decidirem receber mísseis americanos, como acontecia nos tempos da Guerra Fria.
O líder russo afirma ainda que a Casa Branca nunca apresentou provas de suas violações ao INF e que os Estados Unidos foram os primeiros a infringir o acordo ao posicionarem na Romênia elementos estratégicos do escudo antimísseis.
Na segunda-feira 3, Trump, que muda de opinião com frequência, demonstrou vontade de trabalhar com Rússia e China para acabar com a “incontrolável” corrida armamentista.
(Com EFE, AFP e Reuters)