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Rodovias são bloqueadas em protestos contra o governo da Nicarágua

Mais de 120 pessoas já morreram na crise política que atinge o país desde abril, quando protestos contra o governo começaram a ser reprimidos com violência

Por Da Redação
7 jun 2018, 10h18

A oposição nicaraguense aumentou nesta quarta-feira (6) a pressão contra o governo de Daniel Ortega com barricadas nas ruas das cidades e bloqueio em várias estradas, após mais de um mês e meio de violentos protestos que deixaram mais de 120 mortos.

Os opositores asseguram que a maioria das vias do país estão bloqueadas, principalmente ao sul da capital, com o propósito de proteger a cidade de Masaya, que foi alvo de saques, incêndios e ataques de policiais e tropas de choque desde que os protestos começaram, em abril. “A ideia é aumentar os bloqueios para defender Masaya, que se tornou um alvo da ditadura”, disse à AFP a ex-líder guerrilheira e dissidente do sandinismo governista Mónica Baltodano.

Em alguns pontos, os bloqueios se realizam de forma intermitente e em outros são totais, embora os manifestantes tenham deixado passar mulheres grávidas, idosos, crianças e ambulâncias, segundo a imprensa local.

As barreiras também visam a dificultar a passagem para a cidade turística de Granada, um centro histórico, onde na terça-feira (5) foram registrados confrontos que deixaram pelo menos um morto, saques e novos incêndios. “Estamos tristes com os acontecimentos de terça na histórica cidade de Granada, patrimônio cultural da Nicarágua, que foi devastada, foi incendiada como nos tempos de (o aventureiro americano) William Walker” no século XIX, expressou a vice-presidente e porta-voz oficial, Rosario Murillo.

Segundo o governo, os incêndios afetaram não só os prédios públicos e casas do partido governista, mas também vários estabelecimentos comerciais. “Pode ser que estejamos perdendo a segurança porque vivemos o flagelo da delinquência, do crime organizado que castigou nosso país”, acrescentou Murillo.

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Protestos intensificam e Ortega se reúne com bispos

O presidente Daniel Ortega, alvo da onda de protestos, aceitou se reunir nesta quinta-feira (7) com os bispos da Conferência Episcopal para analisar a possibilidade de retomar o diálogo com a oposição.

Os protestos são liderados por jovens que defendem suas cidades com pedras e morteiros caseiros e são repelidos a tiros pelas forças antimotins e grupos de choque do governo. “Nossa única arma é essa, o morteiro (…) O objetivo é tentarmos continuar nos defendendo até que isto acabe”, disse à AFP Álvaro Torres, um mecânico que passou a tarde fabricando lança-morteiros caseiros com três vizinhos para defender seu quarteirão em Masaya, 30 km ao sul da capital.

“É injusto o que [o presidente] Daniel Ortega está fazendo (…) Está matando seu próprio povo”, condenou Zeneyda del Rosario Cuesta, mãe de um adolescente de 17 anos, que foi assassinado no domingo, atingido por uma rajada de tiros que a família afirma ter sido disparada de um posto policial. “Não quero que nenhuma mãe mais perca deu filho (como eu) porque dói, dói no fundo do coração”, disse a mulher, angustiada.

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O partido opositor Cidadãos pela Liberdade (CxL), por sua vez, denunciou que grupos sandinistas destruíram e atearam fogo à prefeitura do Cuá, no departamento (estado) de Jinotega (norte).

Na terça, a Assembleia Geral da Organização de Estados Americanos (OEA) aprovou uma declaração “em apoio ao povo da Nicarágua“, na qual exorta o governo de Ortega e todos os membros da sociedade a dialogar de forma construtiva para abordar a crise e deter a violência.

Os bispos da Conferência Episcopal anunciaram em 31 de maio que não vão retomar o diálogo no qual atuavam como mediadores enquanto o governo não cessar a repressão.

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Agentes se recusam a reprimir

Cerca de 200 agentes antidistúrbios foram retirados da Polícia Nacional da Nicarágua após se negarem a reprimir um protesto contra o presidente Daniel Ortega. A informação é da ONG Comissão Permanente Nacional de Direitos Humanos (CPDH). Esses agentes são a força policial mais usadas pelo governo em operações que as organizações humanitárias consideram como “repressivos”.

Segundo a CPDH, além dos agentes, outros 60 oficiais renunciaram aos cargos, um deles um policial que teve o filho morto por um colega de trabalho em uma operação para reprimir um protesto.

Como resultado da saída dos agentes, a Polícia Nacional está utilizando profissionais que acabaram de sair do treinamento, quase sem preparação, indicou a ONG.

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A Nicarágua completa hoje 50 dias de uma crise que deixou pelo menos 127 mortos e mais de 1.000 feridos, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Hoje, em um protesto na cidade de Masaya, um homem de 33 anos morreu após ser baleado pela polícia, informaram os manifestantes, elevando o número de vítimas para 128.

(Com AFP e EFE)

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