Revista divulga trechos de mensagens sobre planos confidenciais dos EUA para ataques ao Iêmen
Por engano, editor-chefe da The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi adicionado pelo conselheiro de Segurança Nacional, Michael Waltz, à conversa

A revista americana The Atlantic decidiu publicar nesta quarta-feira, 26, imagens do bate-papo em grupo no qual o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, divulgou planos confidenciais de ataques à capital do Iêmen, Sana. Por engano, o editor-chefe da The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi adicionado pelo conselheiro de Segurança Nacional, Michael Waltz, à conversa no aplicativo de mensagens comerciais Signal, fora dos canais seguros do governo dos EUA, em 13 de março.
A decisão da revista de compartilhar mais detalhes sobre o caso foi tomada após uma série de funcionários do governo americano negarem que informações secretas foram enviadas no grupo. Hegseth afirmou que “ninguém estava enviando planos de guerra por mensagem de texto”, enquanto a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, disse ao Senado que “não havia material confidencial que fosse compartilhado naquele grupo do Signal”.
“Minhas comunicações, para ser claro, no grupo de mensagens do Signal eram inteiramente permitidas e legais e não incluíam informações confidenciais”, alegou o diretor da Agência Central de Inteligência, John Ratcliffe, também durante a audiência no Senado dos EUA.
Por sua vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, destacou que o conteúdo circulado “não era informação confidencial”. As declarações instauraram um “dilema” na The Atlantic, segundo a reportagem publicada nesta quarta: “Como regra geral, não publicamos informações sobre operações militares se essas informações pudessem colocar em risco as vidas de pessoal dos EUA. É por isso que escolhemos caracterizar a natureza das informações que estão sendo compartilhadas, não detalhes específicos sobre os ataques”, escreveu Goldberg,
“As declarações de Hegseth, Gabbard, Ratcliffe e Trump — combinadas com as afirmações feitas por vários funcionários da administração de que estamos mentindo sobre o conteúdo dos textos do Signal — nos levaram a acreditar que as pessoas deveriam ver os textos para chegar às suas próprias conclusões”, disse o texto.
“Há um claro interesse público em divulgar o tipo de informação que os conselheiros de Trump incluíram em canais de comunicação não seguros, especialmente porque figuras seniores da administração estão tentando minimizar a importância das mensagens que foram compartilhadas”, acrescentou.
+ Por engano, governo dos EUA enviou planos secretos de ataque ao Iêmen a jornalista
Divulgação da conversa
A reportagem informou que tentou entrar em contato com a Agência Central de Inteligência, o Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional, o Conselho de Segurança Nacional, o Departamento de Defesa e a Casa Branca, para comunicar que “The Atlantic está considerando publicar a totalidade da cadeia Signal”. O jornalista recebeu poucas respostas. Entre elas, a de um porta-voz da CIA, que solicitou que o nome de um agente, compartilhado pelo chefe de gabinete John Ratcliffe, não fosse divulgado. A revista acatou o pedido.
Goldberg publicou, então, uma lista em que aparecem os 19 supostos integrantes do grupo. Entre os principais nomes, estão o vice-presidente J.D. Vance; o secretário de Estado, Marco Rubio; e a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles. Mas a ausência de um nome se destacou: Christopher Grady, presidente interino do Estado-Maior Conjunto e conselheiro militar sênior do presidente. A exclusão de Grady, o oficial de mais alta patente do Pentágono, de uma reunião militar foi definida como algo “inédito” pelo jornal americano The New York Times.
Em 15 de março, Hegseth dá início a uma sequência de mensagens no “pequeno grupo Houthi PC”. Às 11h44 ET (12h44 em Brasília), ele escreveu, em letras maiúsculas: “ATUALIZAÇÃO DA EQUIPE”, acrescentando: “HORA AGORA (1144et): O clima está FAVORÁVEL. ACABEI DE CONFIRMAR com o CENTCOM (Comando Central para o Oriente Médio) que estamos prontos para o lançamento da missão.”
“1215et: LANÇAMENTO de F-18s (1º pacote de ataque)”, disse Hegseth, segundo a reportagem. “1345: Inicia-se a janela de 1º ataque do F-18 ‘baseado em gatilhos’ (o terrorista alvo está em sua localização conhecida, então DEVE CHEGAR NA HORA – também, lançamento de drones de ataque (MQ-9s).”
As mensagens continuam:
“1410: Mais F-18s LANÇADOS (2º pacote de ataque)”
“1415: Ataque drones no alvo (ESTE É O MOMENTO EM QUE AS PRIMEIRAS BOMBAS DEFINITIVAMENTE CAIRÃO, dependendo dos alvos anteriores ‘baseados em gatilhos’)”
“1536 F-18 2nd Strike Starts – também, os primeiros Tomahawks baseados no mar foram lançados.”
“MAIS A SEGUIR (por linha do tempo)”
“Estamos atualmente limpos em OPSEC” — isto é, segurança operacional.
“Boa sorte aos nossos guerreiros.”
Após os ataques, Waltz escreveu: “VP. Prédio desmoronou. Tinha várias identificações positivas. Pete, Kurilla, o IC, trabalho incrível”, referindo-se a Hegseth; a Michael E. Kurilla, chefe do Comando Central; e à Comunidade de Inteligência (IC). Vance não entende a mensagem e, em seguida, o conselheiro explica o que quis dizer, tratando sobre os rebeldes Huthis, que estavam na mira da operação em Sana, capital do Iêmen.
“Digitando muito rápido. O primeiro alvo – o cara do míssil principal – nós tínhamos identificação positiva dele entrando no prédio da namorada e agora ele desabou”, relatou Waltz, que recebeu um “excelente” de Vance.
Com o fim dos ataques no dia, o grupo comemora o sucesso dos bombardeios. Goldberg sai do grupo, com o objetivo de que Waltz seja notificado e perceba que o adicionou, sem querer, ao chat. O jornalista advertiu, na publicação desta terça, que “as informações contidas neles, se tivessem sido lidas por um adversário dos Estados Unidos, poderiam ter sido usadas para prejudicar o pessoal militar e de inteligência americano, particularmente no Oriente Médio mais amplo”.