Reformas de Macron despertam greves e protestos na França
Mais de 300.000 funcionários públicos saíram às ruas
Dezenas de milhares de enfermeiros, professores e outros funcionários do setor público juntaram forças para marchar nesta quinta-feira contra reformas trabalhistas propostas pelo presidente da França, Emmanuel Macron, causando interrupções generalizadas de viagens e provocando breves confrontos com a polícia em algumas cidades.
Segundo o Ministério do Interior, 323.000 pessoas foram às ruas em todo o país, 49.000 delas só em Paris. O sindicato CGT, o maior do setor público, estimou a participação total em mais de 500.000 manifestantes.
Embora a vasta maioria dos cerca de 180 protestos pelo país tenha sido pacífica, confrontos aconteceram entre a polícia e encapuzados em Paris e na cidade de Nantes, oeste da França, onde forças da segurança usaram gás lacrimogêneo e canhões de água.
Sete sindicatos de funcionários encabeçaram o protesto, enquanto um terço dos ferroviários deixava seus postos de trabalho para se unirem à mobilização contra o projeto de Macron de reformar a companhia pública ferroviária SNCF.
Foi a primeira vez que trabalhadores do setor público, variando de controladores de tráfego aéreo a funcionários públicos, se juntaram a funcionários ferroviários e pensionistas para protestar contra as reformas econômicas que Macron tem buscado introduzir desde que assumiu, em maio.
De acordo com dados da SNCF, que transporta diariamente 3,5 milhões de passageiros, 40% dos trens de alta velocidade e 25% dos de médio alcance circularam nesta quinta na França, onde ainda se registraram perturbações em voos, escolas, serviços de segurança, bibliotecas e outras serviços públicos, como coleta de lixo.
Comemorando a “forte mobilização”, a CGT convocou uma nova jornada de ação em 19 de abril.
A polícia usou gases lacrimogêneos e jatos de água no centro de Paris, em confrontos com grupos de estudantes. Pelo menos uma janela de um escritório ficou quebrada e um automóvel foi incendiado.
Reformas
Macron, de 40 anos, eleito em maio, tinha prometido amplas reformas. Em 2017, aprovou uma série de novas medidas que afetaram os trabalhadores do setor privado francês.
Agora, os trabalhadores protestam contra uma nova leva de reformas para a ala pública, entre elas o corte de 120.000 empregos do setor, a contratação de mais funcionários terceirizados e a redução dos orçamentos.
Os ferroviários protestam contra um projeto de reforma da companhia nacional SNFC que inclui o fim de seu estatuto trabalhista, vantajoso em relação ao regime geral dos trabalhadores, sobretudo a respeito da aposentadoria.
A reforma ferroviária – um “passo” em direção à privatização da SNCF, segundo alguns – ainda se dá por decreto, mecanismo mais rápido, que reduz os debates parlamentares e desperta fortes críticas.
Proporção
Mas, enquanto em algumas regiões o transporte tornou-se um pesadelo, especialmente para os trabalhadores procedentes dos subúrbios, o impacto das greves foi baixo, em relação aos padrões históricos da França.
Milhares de pessoas participaram dos protestos organizados nesta quinta-feira em grandes cidades como Marselha e Lyon. As cifras a nível nacional foram similares às dos protestos de outubro contra as reformas trabalhistas impostas por Macron no ano passado.
Entretanto, foram menores que as gigantescas manifestações dos últimos 25 anos, como em 1995, 2003 e 2010, quando mais de um milhão de pessoas saíram às ruas.
Desta vez, a data de 22 de março foi escolhida deliberadamente para coincidir com os protestos de 1968, que desencadearam as históricas mobilizações de maio daquele ano.
(Com AFP e Reuters)