Rebeldes sírios cercam outra cidade estratégica após tomada de Aleppo
Rodeada por 'três lados' pelos jihadistas, Hama é vista como um local crucial para a defesa da capital, Damasco, pelo regime de Bashar Al-Assad

Rebeldes sírios sitiaram a cidade de Hama “por três lados”, afirmou nesta quinta-feira, 5, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização independente que monitora a guerra no país. O cerco ocorre poucos dias após os jihadistas tomarem a a segunda maior cidade do país, Aleppo, controlada há mais de uma década pelas forças do regime de Bashar al-Assad, que lançaram uma contraofensiva para retomar o território.
Hama está estrategicamente localizada no centro da Síria e, para o exército de Assad, é crucial para proteger a capital e sede do governo, Damasco. Com sede no Reino Unido, observatório afirmou que os rebeldes “cercaram a cidade de Hama de três lados e agora estão presentes a uma distância de três a quatro quilômetros dela”. Agora, as forças do governo ficaram “com apenas uma saída em direção a Homs, ao sul”.
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Liderando a aliança rebelde está o grupo rebelde islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que tem raízes no braço sírio da Al-Qaeda e é considerado bastante organizado. A guerra civil na Síria começou como uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma violenta revolta armada em 15 de março de 2011, influenciada pela Primavera Árabe. Enquanto a oposição alega estar lutando para destituir Assad do poder e instalar uma nova liderança mais democrática, o governo sírio diz estar combatendo terroristas armados que visam desestabilizar o país.
Volta da resistência
A chave para o sucesso dos rebeldes desde o início da ofensiva na semana passada foi a tomada de Aleppo. Na quarta-feira, o chefe do HTS, Abu Mohammad al-Jolani, visitou a cidade, e imagens postadas no canal dos rebeldes no aplicativo de mensagens Telegram mostraram cenas do jihadista acenando para apoiadores de um carro aberto.
Embora os rebeldes em avanço tenham encontrado pouca resistência no início de sua ofensiva, a luta ao redor de Hama tem sido especialmente dura. Uma fonte militar citada pela agência de notícias estatal Sana relatou “batalhas ferozes” contra os rebeldes na no norte da cidade, acrescentando que “aviões de guerra conjuntos sírio-russos” faziam parte do esforço.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que as forças do governo trouxeram “grandes comboios militares para Hama” e seus arredores nas últimas 24 horas. “Dezenas de caminhões” carregados com tanques, armas, munições e soldados seguiram em direção à cidade, enquanto “forças do regime e combatentes pró-governo liderados por oficiais russos e iranianos” repeliram um ataque a noroeste de Hama, afirmou o monitor de guerra. As batalhas se concentram em uma área povoada por alauítas, seguidores do mesmo ramo do islamismo xiita do presidente.
Além disso, a agência de notícias alemã DPA anunciou o assassinato do premiado fotógrafo sírio Anas Alkharboutli em um ataque aéreo perto de Hama.
Resposta do governo
Até a semana passada, a guerra na Síria estava praticamente estática há vários anos. Mas analistas avaliam que o barril de pólvora estava fadado a explodir, pois o conflito nunca foi realmente resolvida.
Desde as investidas renovadas dos rebeldes, Assad ordenou um aumento de 50% no pagamento de soldados de carreira, segundo a Sana, buscando reforçar suas forças para a contraofensiva. A Rússia, bem como a milícia libanesa Hezbollah, têm sido apoiadores importantes de seu regime, mas ambos estão atolados em seus respectivos conflitos.
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Os rebeldes lançaram sua ofensiva em 27 de novembro, o mesmo dia em que um cessar-fogo entrou em vigor na guerra entre Israel e o Hezbollah no vizinho Líbano.
Na quarta-feira, a Rússia afirmou estar em “contato próximo” sobre o conflito na Síria com o Irã e a Turquia. Enquanto Moscou e Teerã apoiam Assad, Ancara apoia a oposição.
A ONU disse na quarta-feira que 115 mil pessoas foram “recentemente deslocadas em Idlib e no norte de Aleppo” pelos combates. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, por sua vez, afirmou que a onda de violência recente matou 704 pessoas, a maioria combatentes, mas também 110 civis. Outra organização internacional, a ONG Human Rights Watch alertou na quarta-feira que os combates “levantam preocupações de que os civis enfrentam um risco real de abusos sérios nas mãos de grupos armados da oposição e do governo sírio”.