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Querem que o Brasil ‘não pense’ e ‘não incomode’, critica Ernesto Araújo

Em artigo para a Bloomberg, chanceler defende mudanças e alega que presidente 'não foi eleito para deixar o Brasil como ele o encontrou'

Por Diego Freire Atualizado em 7 jan 2019, 15h02 - Publicado em 7 jan 2019, 13h43

O chanceler Ernesto Araújo prometeu “tornar o Brasil um ‘player’ global novamente” e opor-se à política externa “esquerdista e caótica” dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Em artigo publicado nesta segunda-feira, 7, no portal da agência de notícias Bloomberg, acompanhada especialmente por investidores do mundo inteiro, ele acusou seus críticos de defenderem que o Brasil “não pense” e “não incomode” outras nações.

Esta estratégia, insistiu o ministro, “não funciona e não será respeitada”. No texto “Bolsonaro Não Foi Eleito Para Deixar o Brasil Como Ele o Encontrou“, em tradução livre, ele reforça as mudanças radicais defendidas em seu discurso de posse.

“Querem que a abordagem de marketing [do Brasil] seja: ‘olhe, sou o Brasil. Não penso nada. Não tenho ideias. (…). Não tenho um eu. Não incomodo ninguém. Faça negócios comigo!”, ironiza o ministro, que rebate com um exemplo: “Olhe para a China, que defende sem piedade seu sistema, afirma seus interesses e identidade nacionais, suas ideias específicas sobre o mundo – e todos fazem mais e mais comércio com eles”

‘Liberdade de pensamento’

O chanceler reconhece que seu posicionamento enfrenta rejeições entre a população brasileira, mas diz que essas pessoas estão “tão acostumadas a mudanças ruins que preferem não arriscar nenhuma mudança”. Ele cita o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein – que, de acordo com o texto, afirma que as pessoas devem aceitar o mundo como ele é.

“Eu não gosto de Wittgenstein”, afirma Ernesto Araújo. “O pessimismo de tomar o mundo tal como o encontramos” é a “raiz filosófica da atual ideologia globalista totalitária”, afirma. Vale destacar que, em seu discurso de posse, o diplomata em diversos momentos criticou a “ordem global” e defendeu que o Brasil não a siga, embora sem especificar o que isso significa na prática.

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Para a Bloomberg, Araújo escreveu: “[Bolsonaro] não foi eleito para tomar a política externa brasileira como a encontrou, levantar a bandeira do ‘pragmatismo’ superficialmente e ir para casa. Não é isso que o povo brasileiro – o pensamento, o ego independente com suas próprias paixões e ideias, e não os autômatos pós-modernos – querem e merecem. A política externa brasileira deve mudar: isso faz parte do sagrado mandato do povo confiado a Jair Messias Bolsonaro”.

“Estamos convencidos de que o Brasil tem um papel muito maior no mundo do que aquele que atualmente atribuímos a nós mesmos”, prossegue o ministro. “Queremos promover a liberdade de pensamento e liberdade de expressão em todo o mundo. Isso é essencial para promover qualquer outro tipo de mudança e qualquer outro tipo de liberdade. A eleição de Bolsonaro no Brasil só foi possível porque as pessoas puderam trocar livremente suas ideias e expressar seus sentimentos livres da ‘camisa-de-força’ da mídia tradicional. Esta lição é inestimável”.

Política adormecida

Araújo diz que o Brasil mostrou ser possível “desmantelar pacificamente um sistema de décadas de crime e corrupção com coragem”, em contraposição a países onde “o pensamento é controlado diretamente pelo estado” e a outros, nos quais “a mídia e a academia” exercem esse poder.

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Críticos de Araújo acreditam que medidas como a possível mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém possam gerar grave desgaste em boas relações construídas por décadas pelo Itamaraty. Outra ação questionada foi o “desconvite” a Cuba e à Venezuela para a posse de Bolsonaro.

Ele não cita os casos diretamente em seu texto, mas declara: “Queremos promover a paz (…). Mas você não promove a paz e a segurança fingindo que as ameaças que você enfrenta não existem (…). Você tem que enfrentar as ameaças, e a principal delas vem de regimes não democráticos que exportam crime, instabilidade e opressão”, afirmou. “Você não pode simplesmente ignorar ditaduras como Venezuela e Cuba (…). Especialmente, quando você as deixa preservar e estender seu poder, com a desculpa de que isso é ‘o mundo como o encontramos'”.

Por fim, ele diz que a política comercial brasileira “ficou adormecida por muito tempo” e que sua gestão expandirá o comércio “de forma ambiciosa e criativa”. Para isso, ele diz que o Brasil “falará sua própria voz e não apenas imitando a de outra pessoa”.

“Os críticos diriam que, falando sobre liberdade e democracia, e levando esses conceitos a sério, somos ideológicos. Eles argumentariam que a defesa da liberdade e da democracia porá em risco nosso comércio. Seria um mundo triste se esse fosse o caso”, afirmou. “O Brasil mostrará que você pode aumentar sua participação no comércio internacional e nos fluxos de investimento, mesmo quando você pisa com confiança no cenário mundial para defender a liberdade, falando com a voz do próprio país”, escreveu o ministro. 

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