Quais as chances do novo papa ser brasileiro?
Oito cardeais brasileiros, sete dos quais têm direito a voto, participarão do conclave que elegerá o próximo Santo Padre

A morte do papa Francisco lançou à Igreja Católica o desafio de organizar um processo tradicional e complexo de eleição do sucessor. Nesta terça-feira, 22, sessenta cardeais participaram da primeira reunião preparatória para o conclave, um ritual que será iniciado oficialmente entre o 15º e o 20º dia após o falecimento do pontífice e ficará a cargo do Colégio Cardinalício, composto por religiosos de todo o mundo.
Embora haja brasileiros na disputa, são consideradas remotas as chances de o novo Santo Padre vir do Brasil — ou mesmo da América Latina.
Apenas os cardeais com menos de 80 anos na data da vacância da Sé Apostólica, ou seja, na data da morte do Papa, têm o direito de voto. Essa norma visa garantir que os eleitores possuam o vigor físico e mental necessários para um processo de tamanha responsabilidade.
Entre os oito cardeais brasileiros, sete atendem a esse critério de idade e estarão aptos a entrar na Capela Sistina para eleger o sucessor de Francisco. São eles:
- Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, com 65 anos.
- Dom Jaime Spengler, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Arcebispo de Porto Alegre, com 64 anos.
- Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, com 75 anos.
- Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, com 74 anos.
- Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília, com 57 anos.
- Dom João Braz de Aviz, Arcebispo Emérito de Brasília, com 77 anos.
- Dom Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus, com 74 anos.
Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP), não pode votar, já que tem 88 anos. E ainda que continue elegível no conclave, não tem sido citado como viável.
Não há nenhum, na verdade, com grandes chances de ser escolhido. Hoje, a probabilidade de um brasileiro virar papa é muito pequena, segundo a grande maioria dos vaticanistas. O país não tem um cardeal com grande protagonismo na Cúria Romana nem com projeção pastoral suficiente para reunir consenso no colégio cardinalício.
Destaques
O mais conhecido é Odilo Scherer, que participou do conclave de 2013 e hoje exerce também a função de Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Naquela ocasião, ele foi apontado por vários vaticanistas como um dos candidatos com mais apoio inicial, ao lado de nomes como o italiano Angelo Scola. Reportagens da época diziam que ele tinha aprovação de setores da Cúria contrários à eleição de Scola.
Doze anos depois, porém, seu nome não tem sido citado com frequência por especialistas no Vaticano. Agora, o arcebispo de São Salvador, Dom Sérgio da Rocha, é mencionado às vezes como um nome que corre por fora. Ele foi bispo auxiliar de Fortaleza e arcebispo metropolitano de Teresina e de Brasília. Desde 2020 é o arcebispo de Salvador. É também membro do Conselho de Cardeais, que ajuda o Santo Padre no governo da Igreja.
Outro nome que corre por fora é o de Dom Leonardo Ulrich Steiner, talvez por sua congruência com o papa Francisco, por quem foi nomeado arcebispo de Manaus em 2019. Frade franciscano, também foi bispo da Prelazia de São Félix, no Mato Grosso.
Além disso, a eleição de Francisco, em 2013, já representou a chegada da América Latina ao papado. Nada impede que isso se repita, mas alguns cardeais podem ver como redundante escolher alguém da mesma região tão cedo. Um nome sul-americano citado por vaticanistas, embora longe de ser um dos favoritos, é o do cardeal uruguaio Daniel Sturla, arcebispo de Montevidéu, com perfil considerado mais conservador que o de outros do continente. Ainda assim, os mais cotados para o próximo conclave têm origem europeia.
Se o passado for exemplo…
Não há notícia de que um brasileiro tenha despontado como um dos líderes das votações de conclaves em nenhum momento na história. O caso mais notório é o do próprio Scherer, que teve certa força apenas nas primeiras rodadas de 2013, segundo informações não oficiais.
Antes dele, o cardeal Lucas Moreira Neves chegou a ser considerado papável nos anos 1990, quando foi secretário da Congregação para os Bispos, um dos cargos mais importantes da Cúria Romana. Uma reportagem de 1994 do jornal americano The New York Times, que discutia a sucessão do papa João Paulo II em meio a preocupações sobre a saúde do pontífice, mencionou Neves como um dos nomes cotados para suceder o polonês: “Um proeminente conservador com raízes no mundo em desenvolvimento e experiência no Vaticano”. Mas ele se aposentou por motivos de saúde antes do conclave de 2005, quando poderia ter sido considerado.
Na década de 1970, o cardeal Aloísio Lorscheider (1924–2007) também chegou a ser citado, especialmente por sua atuação no Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), que na época exercia forte influência na região. Ele participou dos dois conclaves de 1978, e há registros não oficiais de que teria recebido alguns votos em agosto de 1978 – incluindo o do cardeal Albino Luciani, que viria a ser eleito como João Paulo I.