Primeiro papa latino-americano: conheça a trajetória que levou Francisco ao Vaticano
Antes de ingressar na vida religiosa, o pontífice se formou em Ciências Químicas e atuou como professor de Literatura

O papa Francisco faleceu na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, em Roma. Ao longo de seus doze anos de pontificado, ele liderou um discurso de transformação, priorizou temas sociais e ficou conhecido pelo seu carisma.
Antes de ingressar na vida religiosa, Francisco se formou em Ciências Químicas e atuou como professor de Literatura. Em 2013, o argentino se tornou o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história.
Raízes argentinas e chamado religioso
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio era filho de imigrantes italianos e o mais velho de cinco irmãos. Ele cresceu no bairro portenho de Flores, espécie de reduto dos imigrantes italianos na capital argentina, onde levava uma vida simples.
Francisco se formou em Ciências Químicas e atuou como professor de Literatura antes de ingressar na vida religiosa. Aos 16 anos, sentiu um chamado vocacional ao entrar na Basílica de St. Joseph, em Buenos Aires. “Bem ali eu soube que tinha que ser padre”, disse ele.
Em 1969, após 13 anos de estudo, Bergoglio foi ordenado sacerdote. Quatro anos depois, tornou-se o superior provincial dos jesuítas na Argentina, durante a violenta ditadura militar que assolou o país. Envolto em controvérsias por sua atuação nesse período — acusado de não proteger dois padres sequestrados pelo regime, o que ele sempre negou —, foi mais tarde transferido para a Alemanha e depois para a cidade argentina de Córdoba, em uma espécie de exílio interno.
O retorno de Francisco se deu em 1992, quando ele foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, e em 1998 tornou-se arcebispo da capital. No cargo, destacou-se por sua vida simples, seu cuidado com os pobres e sua proximidade com os fiéis. Em 2001, foi nomeado cardeal pelo então papa João Paulo II.
Antes de ascender ao papado, Francisco nunca escondeu sua profunda paixão pelo futebol e, principalmente, pelo Club Atletico San Lorenzo de Almagro. Era um autêntico “corvo”, como são chamados os torcedores san-lorenzistas, e tinha até carteirinha de sócio-torcedor.
O Conclave
Após a renúncia de Bento XVI, em 2013, Bergoglio foi eleito o 266º papa da Igreja Católica. Ele assumiu com o nome de Francisco, uma homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e amor aos pobres — princípios que guiariam seu pontificado.
Logo no início de sua trajetória como papa, Francisco se recusou a morar nos luxuosos aposentos papais e optou por viver em uma residência simples. Sua primeira viagem papal foi à ilha de Lampedusa, na Itália, onde denunciou a “globalização da indiferença” diante da crise migratória.
Pontificado de Francisco
Francisco chegou ao Vaticano com o peso de ser o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história. Durante seus doze anos de pontificado, ele promoveu mudanças significativas no estilo e discurso da Igreja Católica, se abrindo sobre temas como homossexualidade, ateísmo, abuso sexual e sexismo.
O pontífice convocou importantes sínodos, como o da Amazônia, defendeu uma Igreja mais sinodal e descentralizada, e abriu espaço para discussões antes consideradas tabu, como a presença de mulheres em cargos de liderança e o acolhimento à comunidade LGBTQIA+. Enfrentou resistências internas e escândalos, especialmente relacionados a abusos, com promessas de reformas e maior transparência.
Em seu primeiro ano como papa, ele declarou: “Se alguém é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”. A fala se tornou uma das mais repercutidas de todo o seu pontificado.
Problemas de saúde
A causa de morte de Francisco foi um AVC grave, informou o jornal italiano Corriere della Sera, com base em informações de dentro da Santa Sé.
No entanto, o físico do chefe da Igreja Católica já estava debilitado pelas infecções respiratórias que haviam causado sua internação no hospital Gemelli, em Roma, por mais de trinta dias.
Sucessivas crises colocaram em dúvida a possibilidade de sua recuperação – médicos informaram que consideraram interromper os tratamentos e oferecer apenas cuidado paliativo.
Em algumas de suas últimas audiências religiosas, o pontífice teve dificuldades para ler o sermão e precisou pedir ajuda para um assessor realizar a tarefa, afirmando que estava com “dificuldades respiratórias”.
O papa sofreu com problemas de saúde diversas vezes nos últimos anos. Além de gripe e bronquite, ele também teve dores nos joelhos e nos quadris, inflamação do cólon e precisou operar uma hérnia.