Primeiro-ministro de Portugal arrisca futuro ao convocar voto de confiança
Em meio a acusações de conflito de interesses e incertezas sobre futuro do governo, surge a possibilidade de novas eleições

Em um movimento arriscado, o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, apresentou na quarta-feira, 6, uma moção de confiança no Parlamento, que, caso rejeitada, deverá selar sua queda. O movimento enfrenta grande resistência por parte dos principais partidos da oposição e pode abrir caminho para a terceira eleição antecipada desde 2022.
Há menos de dois meses, o premiê, também cabeça do Partido Social Democrata (PSD), desfrutava de uma aprovação popular de 53%, sendo um dos líderes mais bem avaliados do país. Seus principais adversários, o socialista Pedro Nuno Santos e o ultradireitista André Ventura, enfrentavam altos índices de rejeição. No entanto, o cenário mudou drasticamente quando uma investigação sobre a Spinumviva, uma empresa de consultoria de sua família, trouxe à tona acusações de conflito de interesses.
A Spinumviva, fundada por Montenegro em 2021, oferece serviços de proteção de dados e consultoria. A oposição alega que Montenegro usou sua posição de poder para beneficiar a empresa, em especial após a empresa ter recebido pagamentos mensais de €4.500 (cerca de R$ 28 mil) de uma operadora de cassinos, a Solverde, que atua sob concessão do Estado. Embora Montenegro tenha defendido sua inocência e afirmado que todos os seus bens e rendimentos foram devidamente declarados, a oposição continua fazendo pressão e o acusando de ocultar sua participação na empresa.
Diante da crescente pressão, o primeiro-ministro anunciou a moção de confiança no Parlamento. A manobra foi pensada para tentar afastar as “insinuações e intrigas” sobre sua conduta. Montenegro tenta, assim, forçar os partidos a se posicionarem sobre o futuro do governo. No entanto, a expectativa é que a moção seja rejeitada, uma vez que o Partido Socialista (PS) e outras legendas de oposição já se manifestaram contra seu governo.
O socialista Pedro Nuno Santos, principal líder da oposição, voltou a criticar o premiê, sugerindo que ele tenha se beneficiado indevidamente de sua posição no governo. Já a direita, representada por André Ventura, do Chega, tem se mostrado cada vez mais assertiva, aumentando a pressão para que Montenegro se afaste e novas eleições sejam convocadas.
Se a moção for rejeitada, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa terá que decidir se dissolve o Parlamento e convoca novas eleições, possivelmente para 11 ou 18 de maio. A decisão do presidente será crucial para determinar se o governo de Montenegro será substituído por um novo ciclo político ou se o país enfrentará uma nova eleição antecipada.
Enquanto a crise política se agrava, a economia portuguesa, por outro lado, tem apresentado sinais positivos. O país registrou um crescimento econômico superior a 2% em 2024 e um superávit orçamentário. No entanto, a instabilidade política, com uma eventual troca de governo, pode paralisar projetos importantes, como a privatização da TAP, a companhia aérea nacional, e as reformas no setor imobiliário, que estão em curso.