Presidente português vira alvo da direita após apoiar reparação ao Brasil
Parlamento rejeitou proposta para acusar Marcelo Rebelo de 'traição', após assumir responsabilidade de Portugal pelos crimes da era colonial
O Parlamento de Portugal rejeitou nesta quarta-feira, 15, uma proposta da extrema direita que buscava acusar o presidente Marcelo Rebelo de Sousa de “traição” por ter assumido responsabilidade pelos crimes cometidos pelo país no passado, incluindo a escravidão transatlântica, e apoiar o pagamento de reparações a ex-colônias, incluindo o Brasil. Todos os partidos, incluindo o Partido Social Democrata (PSD), que atualmente ocupa o governo, recusaram a medida encabeçada pelo ultradireitista Chega.
A votação ocorreu menos de um mês após Souza afirmar que Portugal “assume total responsabilidade” pelos crimes do passado e que deve “pagar os custos”.
“Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”, disse ele a jornalistas estrangeiros, continuando: “Pedir desculpas é a parte fácil.”
Rebelo também ponderou que o país poderia cancelar dívidas das ex-colônias e conceder financiamento como parte das medidas reparatórias. Dias mais tarde, no entanto, o governo de Portugal — comandado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, do PSD, nomeado em março deste ano — negou que tenha dado início à qualquer forma de indenização.
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Críticas do Chega
Segundo o presidente do Chega, André Ventura, “as declarações do presidente representam uma profunda traição à nossa história”. Em sessão no Parlamento convocada para tratar da proposta, ele afirmou que Portugal “nunca deu nada” aos portugueses que ficaram sem posses após a independência das colônias e criticou Rebelo por agora querer “indenizar outros”.
Embora o PSD tenha conseguido formar governo após receber a maioria (ainda que não absoluta) dos votos nas eleições de março, o Chega foi considerado o grande vencedor do pleito deste ano. Considerada por opositores como racista e xenofóbica, a sigla quase quadruplicou o número de representantes no Parlamento, para 48, confirmando o giro à direita previsto por pesquisas de opinião.
O partido surgiu em 2019, se alimentando de críticas à crescente presença de imigrantes e o aumento da criminalidade na nação europeia, questões resumidas no slogan “Portugal precisa de uma limpeza”.