Premiê da França apresenta renúncia, mas Macron pede que ele siga no cargo
Projeções indicam que aliança de partidos de esquerda deve formar maior bancada, superando partido de Macron e Gabriel Attal
O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, anunciou neste domingo, 7, que pedirá renúncia do cargo e entregará o posto amanhã. A decisão do premiê ocorre na esteira das eleições legislativas para a Assembleia Nacional, uma vez que as projeções indicam seu partido — Renascimento, sigla de centro do presidente Emmanuel Macron — como a segunda bancada do Parlamento.
“O grupo político que representei nesta campanha não conseguiu a maioria, e apresentarei a minha demissão ao presidente amanhã de manhã”, afirmou Attal. Apesar da decisão, o premiê celebrou que “nenhuma maioria absoluta foi conquistada pelos extremos” e que a base aliada do governo permanece “de pé”.
Segundo pesquisas de boca de urna realizadas pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), a grande vitoriosa do pleito será a Nova Frente Popular, aliança de partidos de esquerda que deve conquistar entre 177 e 192 cadeiras na Assembleia. A previsão é que o Renascimento e a base aliada de Macron fiquem com algo entre 152 e 158 assentos.
Já o Reagrupamento Nacional, partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen e Jordan Bardella, deve terminar o pleito de hoje com 138 a 145 vagas na Assembleia. Mesmo acabando em terceiro lugar, o resultado representaria um amplo crescimento da atual bancada de 89 deputados da sigla.
Eleição tem comparecimento recorde em 40 anos
O Ministério do Interior da França estima que o comparecimento às urnas neste domingo superou os 60%, algo surpreendente para um país onde o voto é facultativo e o maior engajamento costuma ser reservado às eleições presidenciais. O pleito de hoje representa o segundo turno das eleições legislativas — no primeiro turno, realizado no último domingo, 30, a participação chegou a mais de 66%, maior proporção desde as votações de 1997.
Risco de parlamento travado
Mesmo com o desempenho surpreendente da aliança de esquerda, nenhum bloco deve conquistar a maioria de 289 dos 577 assentos da Assembleia Nacional. Assim, a tendência é que a Nova Frente Popular negocie a formação de uma coalizão com o grupo de Macron, da centro-direita, para superar a extrema-direita de Le Pen.
O ex-deputado Jean-Luc Melénchon, fundador do França Insubmissa, um dos principais partidos da Nova Frente Popular, afirmou que seu bloco está “pronto para governar”. Repercutindo as projeções das pesquisas de boca de urna, o ex-parlamentar declarou que “a derrota do presidente da República está claramente confirmada” e que Macron precisa “admiti-la sem tentar se esquivar”.