Por que o independentismo basco é mais fraco que o catalão
Os atentados dos terroristas do ETA, que anunciaram a dissolução recentemente, e a economia das duas regiões espanholas podem ser parte da explicação
No País Basco, 58% dos habitantes dizem se considerar principalmente bascos. É um índice maior que o da Catalunha, outra região da Espanha, onde 44% se dizem catalães acima de tudo.
Contudo, o desejo por criar um estado independente é maior na Catalunha do que no País Basco: 33% contra 24%.
A primeira explicação para o separatismo ser mais fraco entre os bascos é o terrorismo. Os sucessivos atentados terroristas perpetrados pelo ETA (Euskadi Ta Askatasuna, em língua basca; Pátria Basca e Liberdade, em português) levaram a população a repudiar a causa do grupo. Muitos ainda reclamam da impunidade para seus membros. Eles não se contentam com os pedidos de desculpas dos últimos dias.
“Entre os anos 1960 e 1980, havia um grande apoio ao ETA. Porém, nos anos 1990 e no século XXI esse sentimento foi reduzido. Foram anos muito difíceis e as ações radicais que eles tomaram estabeleceram uma realidade dramática”, diz Gorka Roman, cientista político basco e professor da Universidade do País Basco. Ela cita o sequestro e assassinato de Miguel Ángel Blanco, político do Partido Popular, como um dos casos que causaram forte indignação, comoção popular e consequente repulsa ao grupo violento. “Cresceram os movimentos no País Basco e na Espanha como um todo contra o ETA, e o apoio ao separatismo diminui. Algumas pessoas relacionaram o movimento independentista com o assassinato”, diz.
Outra justificativa é que na Catalunha há mais motivos para lutar. “O País Basco já tem muito mais autonomia que a Catalunha, o que explica por que seu apoio à independência é menor”, diz o cientista político americano Jason Sorens, da Universidade de Dartmouth, Nova Hampshire, Estados Unidos.
Astrid Barrio, professora de ciência política da Universidade de Valência, na Espanha, reitera e acrescenta motivos para o recente crescimento do desejo separatista da Catalunha: “Há um conjunto de fatores: a crise econômica e a crença de que a independência melhoraria a situação, a crise política na Espanha e a insatisfação com a sentença do Tribunal Constitucional invalidando o novo Estatuto de Autonomia aprovado em referendo em 2006 são alguns deles”, diz.
Por fim, a situação econômica também tem uma influência importante no sentimento independentista. “Os bascos têm uma relação muito boa com o governo espanhol em relação aos impostos. Estão cansados da violência e querem aproveitar a prosperidade”, diz o americano Thomas Harrington, professor de estudos ibéricos da Trinity College, em Connecticut.
Com o anúncio da dissolução do ETA, o movimento independentista seguirá lutando apenas na arena política. Na carta anunciando a dissolução, o grupo diz: “Os antigos membros do ETA vão continuar a luta por um País Basco reunido, independente, socialista, falante da língua basca e não patriarcal”.
“Não há outra saída para esse problema a não ser a negociação política”, diz Manuel Cabrera, professor de sociologia na Universidade de Sevilla.