Por que 19 países querem entrar no Brics
Bloco vai se reunir em junho para discutir a ampliação, segundo representante sul-africano
Às vésperas de uma cúpula anual na Cidade do Cabo, na África do Sul, o Brics recebeu “propostas de adesão de 19 nações”, de acordo com Anil Sooklal, embaixador sul-africano no bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Segundo o representante, “treze países pediram formalmente para aderir e outros seis pediram informalmente. Estamos recebendo inscrições para participar todos os dias”. No encontro, “o que vai ser discutido é a expansão do Brics e as modalidades de como isso vai acontecer”, disse na segunda-feira, 24, à Bloomberg.
Desde a sua formação, ainda como Bric, em 2006, o grupo adicionou apenas um novo membro, a África do Sul, em 2010. Em fevereiro, foi informado que Arábia Saudita e Irã estão entre os países que pediram formalmente para ingressar. Juntam-se a eles Argentina, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Egito, Bahrein e Indonésia, juntamente com duas nações da África Oriental e uma da África Ocidental, que ainda não foram identificadas.
A conversa sobre expansão foi iniciada em 2022, quando a China estava presidindo o bloco, enquanto a segunda maior economia do mundo tenta construir influência diplomática para conter o domínio dos países desenvolvidos nas Nações Unidas. Porém, a ampliação gera preocupação entre os outros membros por conta do tamanho da influencia chinesa, que tem um produto interno bruto que representa o dobro do tamanho de todos os outros quatro membros do Brics juntos.
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Os ministros das Relações Exteriores dos cinco Estados membros confirmaram que participarão das discussões que vai acontecer de 2 a 3 de junho.
O Brics começou como bloco otimista para descrever quais eram as economias de crescimento mais rápido do mundo na época. Porém, embora o momento econômico positivo para esses países tenha passado, analistas acreditam que a aliança está se estabelecendo como uma alternativa aos fóruns financeiros e políticos internacionais existentes. A sigla agora se vende como “um modelo alternativo ao G7”.
“O mito fundador das economias emergentes desapareceu”, analisou Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, ao alemão Deutsche Welle. “Os países do Brics estão vivendo seu momento geopolítico.”
A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, disse que o interesse mundial no grupo Brics é “enorme”. “Depois de definirmos os critérios [para entrada], tomaremos a decisão”, disse ela, observando que o tópico de expansão vai ser colocado na agenda da próxima cúpula.
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Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o Brics se distanciou ainda mais do chamado Ocidente, por exemplo. Nem Índia, Brasil, África do Sul ou China se juntaram ao movimento de sanções contra a Rússia. O comércio entre Nova Délhi e Moscou chegou em níveis históricos e a dependência brasileira dos fertilizantes russos também deixou essa situação cada vez mais clara.
“Diplomaticamente, a guerra na Ucrânia parece ter traçado uma linha divisória rígida entre uma Rússia apoiada pelo leste e o Ocidente”, disse Matthew Bishop, cientista político da Universidade de Sheffield, para o Economics Observatory. “Consequentemente, alguns formuladores de políticas europeus e americanos temem que o Brics possa se tornar menos um clube econômico de potências emergentes que buscam influenciar o crescimento e o desenvolvimento global e mais um clube político definido por seu nacionalismo autoritário.”
Entretanto, para muitos analistas, o Brics não é uma aliança contra o Ocidente, mas um fórum para aumentar o pensamento soberano e autônomo. Para eles, África do Sul, Índia e Brasil estão simplesmente “competindo por melhores condições”. Enquanto isso, a China usa a plataforma para suas ambições políticas globais, apontando as ofertas de Pequim para mediar a guerra na Ucrânia e os exercícios militares conjuntos que realizou com a Rússia na África do Sul.